Um rio que passou em minha vida

Eu sim; tu não. Eu água; tu ar. Eu emoção, tu razão. Eu esquerda; tu direita. Eu vice; tu versa. Opostos que se atraem.
Como imãs, que o tempo todo lutam, se repelem, atraindo-se. No final, ficam grudados, com suas diferenças. Ou afastam-se, com suas semelhanças. Eterno antagonismo.
Eu firme; tu tateando. Eu no presente; tu entre o passado e o futuro. Eu com medo disto; tu daquilo. Eu intensa; tu no meio do caminho.
Eu movimento; tu estático. Eu vida; tu morte ou vice-versa.
Vida, movimento, caminhos diversos. Um rio.
Um rio é um amontoado de águas, que vêm de vários lugares. Cada uma com a sua história. Histórias diferentes que se juntam.
Água parada. Água turva. Água caudalosa. Águas que vêm e que vão. Águas de março, quem sabe de setembro, do ano inteiro. Um rio é um encontro. Encontros podem ser ou não premeditados ou ocasionais. Encontros acontecem assim como o rio corre em direção ao mar. O encontro em busca da liberdade. Antagonia constante.
Um rio de emoções: alegrias e tristezas. Riso e choro. Altos e baixos. Eterna dialética da vida. Um turbilhão...
Se um rio é água, como não deixar ela rolar? Difícil ser emoção quando o outro lado é razão.
Um rio anda, mesmo que parado. Vive, mesmo que poluído. Desemboca em algum lugar, mesmo que canalizado. Um rio é rio, não deve ser represa...
A represa é o fim. O rio é o meio. A represa recebe, não dá. Apenas absorve... Mas ambos podem transbordar.
Como pode um rio virar represa? A necessidade, a vida ... Mas dizem os ambientalistas que não é bom um rio virar represa...
Ser rio ou ser represa? Uma simples questão de escolha?
Um rio e uma represa. Antagonismo com semelhanças. Quando somos um ou outro?
Foi um rio que passou em minha vida ... ou uma represa? Às vezes um, às vezes outro.
Quando um rio passou em minha vida, ela estava represada. Quase que como um açude, sem comunicação com o mundo. Com medo de voltar a ser rio...
Como uma avalanche, como uma enchente, que invade tudo, sem cerimônia ... Um rio represado que transborda no açude e o faz fugir da prisão, seguindo um curso de rio. Com altos e baixos, naquele eterno antagonismo complementar. Um rio que dá vida, que dá sentido ao dia e à noite, que preenche (mesmo deixando espaços vazios). Que apóia. Mas que é sim e é não. Que hoje quer e amanhã não. Que é rio, mas está represa.
Um dia, um rio atravessou a minha vida e a fez rio também. Mas como o antagonismo era necessário, presente desde o início, preferiu ficar represa. O rio, não eu.
Eu rio, tu represa. Eu de fato; tu no nome. As águas mudam, mas o rio continua o mesmo?Eu sim; tu não. Eu vice; tu versa. Eu dia; tu noite. Eu lua; tu sol. Eu água; tu ar. Eu esquerda; tu direita. Eu emoção; tu razão. Eu intuitiva; tu técnica. Antagonia e complementaridade. Eu rio; tu represa. Opostos se atraem. Iguais se repelem. Ou vice-versa.

Novembro/05

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