Presente

Tem dias que fico com gosto de pirulito na boca. Que não deu tempo para terminar ou que foi retirado à força. Não interessa, a sensação de falta é a mesma.
Tem dias que acordo com esse gosto na boca. De saudade. De um pedacinho que ficou para trás. Daí uma música traz o sabor do morango ou da fruta preferida. Às vezes, nem tão querido, nem tão gostoso.
Quantos pirulitos eu deixei de comer? De aproveitar até o fim? E quantos me foram negados ou retirados? Não importa. Apenas fiquei com a lembrança do gosto.
Acho que somos todos pirulitos na vida dos outros. Que passam, deixam o sabor – gostoso ou amargo. Mas é difícil não ficar com aquele gostinho na boca. De quero mais ou de eca! Felizes os que conseguem pirulitos que deixam boas lembranças. Nos últimos anos, tenho saboreado doces que realmente me deixaram bem, com gostinho de quero mais. Não que exista um melhor que o outro ou mais importante. Mas acho que as pessoas vêm até nós por algum motivo e, nas minhas andanças ciganas, encontrei cada pérola, realmente inesquecível.
Há aqueles que conheci quando estava rodeada de gente, mas que me deram colo ou me fizeram rir. Outros em horas de completa solidão, de medo do desconhecido. Não importa. Minha vida tem sido colorida de pirulitinhos... (até crianças, é verdade).
Só que tem horas que a gente sente falta mais de um do que de outro. E tem alguns que nos transformam mais. Tenho certeza de que, nos últimos meses, mudei em muita coisa. Provei de algo que me deixou mais leve e, assim, mais perto da arte. E é disso que sinto falta. Do gosto da felicidade constante, da leveza, da alegria, do bom humor ao acordar.
Pirulito que bate-bate. Encontro de almas. Acho que é assim. Tem gente que chega pra “bagunçar o coreto”, no bom sentido. Tem pirulito que faz a gente se sentir sublime. Andando nas nuvens e, de repente, nos deixa sem chão.
Não quero valorizar mais um que outro. Cada pessoa tem a sua marca e, o fundo, no fundo, todo pirulito é um grande presente. Mas o fato é que hoje acordei com gosto de pirulito na boca. Mas de um específico.

SP/Novembro/04

Comentários

Neila Baldi disse…
Esse é velho, de um tempo de dor de cotovelo... Novembro de 2004. Mas sempre atual.
Anônimo disse…
Guria, só podia ser teu este texto. Lendo o mesmo, lembrei-me diretamente de vc.
E sabe que tu tens razão, as vezes ficamos com gosto de quero mais.
Beijos.
Anônimo disse…
Neila, assisti esses dias um fim de curso do Nilton Bonder e ele falou dessa
saudade do pirulito e que é a susdade de nossa alma pois eles precisam ser
adoçados e o açucar vem de dentro de nós.
bjs
adorei pirulito que bate bate.

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