A menina do cabelo vermelho



No fim do filme, ela sai caminhando, no meio da multidão. Saí do cinema, na avenida Paulista, sentindo-me como a menina do cabelo vermelho. A trilha sonora do filme em minha cabeça e os olhos marejados.

Acho que não tem quem um dia não viveu isso numa relação: quem não conheceu a menina do cabelo vermelho, aquela que vem para bagunçar o coreto, desestabilizar. E segue. Segue porque talvez fosse só uma brisa, um respiro no meio da multidão, ou segue porque a bagunça foi tão grande que o outro não agüentou. Ás vezes somos nós na vida do outro a menina do cabelo vermelho. Outras, é o outro na nossa vida.

Lembro-me que me sentia a menina do cabelo vermelho. Era a brisa que de repente desestabilizava e, quando o outro se deu conta, não agüentava. Não segurou a onda. E eu então saí pela avenida Paulista, no meio da multidão, enxugando as lágrimas, na certeza de que tudo não era só uma brisa, mas que um dia passaria.

A trilha sonora do filme martelava a minha cabeça: não consigo tirar você da minha mente – algo assim. Não consigo parar de olhar os seus olhos? Lembrava-me dos olhos a me olharem, perplexos. Eu era a menina dos cabelos vermelhos de sua vida. E saía no meio da multidão. Arrasada. Mas seguia em frente, como diz a música, até conhecer uma nova pessoa.

Por vezes, algumas meninas de cabelos vermelhos cruzaram minha vida. Derrubando tudo, como o temporal, esvoaçando-se no meio da multidão e me deixando com o gosto de quero mais. Até a próxima esquina, onde talvez conheceria uma nova pessoa, que não me causaria danos, quem sabe nem arrepios, nem nada, apenas uma brisa.

Lembro-me hoje de alguém para quem talvez eu tenha sido a menina do cabelo vermelho e, que em certo tempo, também foi a minha. Eu baguncei o coreto. Desestabilizei. Mas ele também. E eu não queria sair no meio da multidão. Queria ficar ali, encarando seus olhos, enfrentando o que aquela bagunça me provocava. Mas saímos. Seguimos, vivemos brisas e talvez outros temporais. Até que ficamos, de novo, um diante do outro. E, quem sabe, mais uma vez, fomos a menina do cabelo vermelho da vida do outro.

A minha menina do cabelo vermelho, a filha do vento – como diz a música – desta vez provocou muito mais que o temporal de outrora. Talvez porque eu já soubesse do que era capaz – mas se eu já sabia, como me permiti? A filha do vento fez eu me sentir no meio do furacão, sem conseguir me segurar. E o mundo girava e girava, me levantava e, apesar de tudo, eu gostava. Como era bom sentir de novo aquela sensação, da desestabilidade, do sair da zona de conforto. Assim, naquela bagunça, eu tentava fincar pé, queria como na outra canção, largar tudo e voltar – sem olhar para trás, muito menos para frente – e me agarrar a ele e ficar ali, imóvel, segura. Contraditório: minha menina do cabelo vermelho me desestabilizaria, faria bagunça no meu coreto, mas no fim, seria a minha redenção, a minha promessa de felicidade. Eu queria segurar a onda e tentava me equilibrar. Mas acho que fui derrubada por ela.

Dois meses depois, minhas perguntas seguem sem respostas; as reticências cheias de interrogações. E eu me pergunto: onde foi que errei?

Talvez eu seja ainda a menina do cabelo vermelho. 

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