Olhares

Os olhos se cruzaram. Sorriram. Neles nascia uma comunicação. Não precisava nada ser dito; apenas olhar.
Da primeira vez que se viram, dos olhos saíram luzinhas de curiosidade. Olhos de admiração. Olhos contemplativos. Daquele dia em diante, um olhar perseguia o outro...
Olhares platônicos. Olhos encantados...
Um dia aqueles olhos se afastaram. Mas um olhar continuou a buscar o outro. Olhos a rodar o mundo. Olhos a observar. Olhos a procurar.

Então, aqueles olhos passaram a se encontrar. E eis que, finalmente, um dia, daqueles olhos saíram faíscas. De tesão. Do tempo contido. Olhos brilhantes. Incendiando. Olhos gulosos. E a partir dali, deixaram de ser platônicos. Passaram a ser palpáveis. Olhos saciáveis.
Um dia, daqueles olhos saíram faíscas. Como que a recuperar o tempo perdido. Olhos que se (re) conheciam. Que se olhassem como se não houvesse hiato. Olhares de muito tempo trocados antes. E, por um bom período, um simples olhar bastava.
Olhos de tesão. Olhos de brincadeira. Olhos de molecagem. Olhos regados a gargalhadas. Apenas olhares e nada mais. Um olhar e tudo desabava, transbordava. Olhares irradiantes.

E eis que um dia os olhos ficaram embaçados. Então tudo cessou. Por um tempo saíram outras faíscas, de raiva. De mágoa.
Um dia, daqueles olhos saíram faíscas. Hoje, de um olhar, apenas lágrimas...
Sampa
Junho/06
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