Ficou retido na retina

Ficou retida na retina a imagem da borboleta azul voando. Da grande borboleta azul lutando para sobreviver na água. Dela voando no caminho em direção ao templo. Da pequena borboleta azul na trilha. Da borboleta azul onipresente que lembrou outra da minha infância – de pontas, que comandava as amarelinhas da turma do baby calas.
Ficou na retina o brilho dos olhos depois da festa. A alma refletida na troca de olhares. A cumplicidade do abraço afetuoso. A alegria de viver depois de dias de convívio mágico.
Ficou retida a luz do amanhecer passando pela fresta da janela sem cortina e sem vidro. Essa luz tocando a vegetação. A lua da lua cheia minguando iluminando um caminho de sonhos, alegrias e risadas. O entardecer.
Ficou retido na retina o peixe nadando numa água limpa, clara e cristalina. E também gelada.
Ficou na retina a imagem chapada de um paredão. Da flor do Cerrado. Do sol banhando um rio. Das árvores retorcidas no meio de um vale.
Ficou retida a gente dançando. A gente gargalhando. A gente agarrado como um único corpo.
Ficaram retidas na retina as velas dançando. A chama da fogueira que insistia em não morrer. A fumaça se espalhando, modificando o nosso olhar.
Ficou na retina um céu azul. As folhas voando. Um pôr-do-sol.
Ficou retida a dança das cores no morro. Magenta. Marrom. Verde. Anil.
Ficou retido na retina o som da gargalhada. Da nossa música. A mudança repentina da cobra.
Ficou na retina o teu cheiro. A tua alegria. A tua sensualidade. O teu carisma. O teu break. A tua superação. O teu afastamento. O teu aconchego. A tua presença.
Ficou retido porque não deu tempo para fotografar. Porque o instante é efêmero. “Fixa na retina”, tu disseste. E eu guardei. Ficou na retina porque ali é duradouro.
Tudo ficou retido na retina ... E muito além dela.

Sampa
Junho/06

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