Voltar pra casa


Hoje eu acordei com saudade de ti. De brincar contigo. De passar pelo parque e tomar chimarrão. De caminhar em bando por ele. De andar de bicicleta. De ler o jornal embaixo da árvore. De ti, deitado no meu colo, à beira do laguinho, contando teus segredos.
Eu despertei com vontade de ir ao cinema contigo. Ver um filme cult e tomar um café antes dele, na sala de espera. Quem sabe, depois dele, ira para um lugar gostoso. Acorde com vontade de ir em grupo, ver qualquer coisa, na boa companhia, empanturrando-me de pipoca.
Quando sai da minha cama, senti vontade de deitar na tua e ver tevê. Ou contar os meus problemas. Chorar no teu ombro. De dividir a tua cama com um monte de mulheres, trocando confidências e dando risada.
Fiquei com saudade da nota do beijo. Do cumprimento estendido, sacaneando o jeito do outro falar. Das bobagens que a turma fazia quando alguém arranjava namorado. De sair para dançar até raiar o dia. De encontros e reunião na casa dum ou de outro.
Hoje eu acordei com vontade de ouvir as crianças gritando. Da gente com elas, dando e recebendo. De pular na piscina de bolinhas, de levá-los ao banheiro, no meio da sessão do teatro ou do cinema.
Baixou um anjo saudoso em mim hoje de manhã. Lembrei de ti jogando bolinha de papel enquanto eu trabalhava. Mandando e-mail de sacanagem, na hora em que o outro levantava de seu lugar, deixando a caixa posta. Aberta. De ouvir horóscopo na voz de locutor de AM. De cair na gargalhada do modo de ser dos forasteiros.
Quando eu acordei, lembrei das nossas noites gastronômicas, lá em casa. Ou das jogatinas na casa de um ou outro. De tomar banho no clube. De fazer piquenique em lugares inusitados. De passear no lago. De fazer churrasco embaixo de chuva. De viajarmos juntos. De passar Natal e Ano Novo reunidos. De te ter como platéia ...
Despertei com o barulho das cigarras anunciando a volta das chuvas, como se saísse de um lindo sonho, e quando cheguei para trabalhar, ouvi: “Que bom que você está voltando para casa logo, logo, né?” Justo hoje, que eu acordei com saudade.
E fiquei lembrando de músicas que embalaram as nossas vidas. E de tudo o que passamos juntos. “Voltar para casa”, ficou me martelando na cabeça. Por que essa ligação entre a gente? Eu, tu e todos nós me faziam sentir em casa.
Então lembrei de uma frase: “A nossa casa, a gente que faz, carrega conosco”. Eu, tu e todos nós faziam eu me sentir em casa. E sabe por quê? Porque eu nunca me sentia só e porque contigo e com todos nós, eu era eu e mais nada. Sem máscaras, sem amarras. Verdadeira e natural. Contigo e com todos nós eu me sentia como uma criança, espontânea e feliz, em casa.

Agosto/06
Sampa

Eu a a Milly Lacombe estamos sintonizadas, pois a coluna dela da TPM deste mês foi sobre o mesmo assunto (ver link acima).
E eu, como boa canceriana, estou nesta fase de lua contraditória. Hoje, eu acordei como se tivesse entrado naquele avião, naquela manhã de oito de maio de 2004. Com a diferença de que hoje não tinha ninguém para chegar e me atirar nos braços e me consolar. Queria que a vida não fosse feita de decisões difíceis e que pudesse realizar sonhos pessoais e profissionais juntos, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas, como uma grande família. Imensa saudades de todos vocês.

Comentários

Anônimo disse…
Oi Migaaaa! Que texto lindo,hein? Também tenho muitas saudades de você "minha amiga Bode",kkkk!!! Adorei a parte "deitados na tua cama trocando confidências",tudo de bom!! Estamos aqui e sempre que puder e quiser é só vir!! Beijos e saudades,Lú Mosca.
Frederico disse…
Neila, vc é fã da Millie Lacombe?
Anônimo disse…
E nada de voltar para casa (que fica aqui e não no Sul), afinal, não é mesmo?

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