Formiguinha


Então ela resolveu que ia mudar. Depois de um ano morando numa pensão, decidiu que era hora de ter a sua própria casa. Desde que deixou o lar de seus pais, em outra cidade, nunca chegou a ter o seu próprio cantinho.
Vantagem de morar numa pensão: tinha pouca coisa para carregar. Desvantagem: tinha uma casa inteira para montar.
Talvez ela não tivesse condições de ter a sua própria casa ou quem sabe tinha medo de viver sozinha, uma vez que na pensão havia muita gente. O certo é que resolveu morar com outros amigos. Uma mulher e dois homens.
Alugaram um apartamento e ela começou a encaixotar suas coisas. Malas com roupas. Caixas com livros e CDs. E o computador. Não muito mais que isso. Como sua casa era um quarto de pensão, não tinha uma quantidade grande de coisas a levar.
Ela pensava que tinha poucos cacarecos e tralhas, mas faltaram braços para carregar, na hora de mudança. Ou melhor, nas horas. A cada noite, levava um pouquinho, com a ajuda de uma amiga, que tinha carro. No tempo livre delas, carregaram sacolas, como as formigas que levam aos poucos a comida para se abastecer para o inverno.
Durante dias, fizeram várias viagens, à medida que ela encaixotava suas coisas. É verdade que às vezes, ela levava a pé, algumas sacolas, no horário que a amiga não podia ajudar.
E aquela movimentação chamava a atenção no prédio. Teve dia que, sozinha, pediu ajuda para um vizinho, do andar de baixo, que abriu a porta para bisbilhotar. Ela não teve dúvidas, quando percebeu que ele estava olhando e, em uma das vezes que subiu e desceu as escadas, parou em frente à porta dele e começou a deixar as coisas ali, indo buscar o restante no térreo. Quando voltou, o moço se prontificou a carregar.
Tinha dias que saia para comprar os móveis e, nestes dias, não carregava nada da pensão. Numa dessas vezes, quando voltava para casa, uma criança lhe parou no pátio do prédio e perguntou: “Você mora sozinha?” Ela percebeu que havia malícia e respondeu que sim. “É que minha mãe queria saber quantos moravam lá em cima”. “Era só o que faltava, agora virei a Dona Flor e seus dois maridos”, pensou. Quando chegou em casa, contou para seus amigos. A partir daquele dia, eles passaram a, sempre que chegavam, cada homem à sua vez, gritar: “Amor, estou aqui”.
Uma noite, quando o carro já estava partindo da pensão, surge ela correndo, com um pacote na mão. Tinha medo de esquecê-lo, apesar de que ainda haveria outras indas e vindas para buscar coisas. Na nova casa, ela, a amiga e um amigo, com quem morava, descarregaram o carro, aos poucos. O porta-malas já ia ser fechado, quando a amiga avistou o pacote, entreaberto. “Realmente é muito importante uma árvore de Natal em junho”, disse ela, olhando para os outros dois, que caíram na gargalhada.

Agosto/o6
Sampa


(Ela pensa que é literatura)

Comentários

Anônimo disse…
Snif snif... q emoção,um texto em minha homenagem no seu Blog! Mas td tem uma razão,assim como as formiguinhas,as pessoas tbm ñ andam sozinhas,sempre tem alguém pronto a nos ajudar,se "formiguinhas" falassem elas c/ certeza iam agradecer umas às outras pela companhia,assim COMO EU AGRADEÇO À VC P/ TD QUE FEZ E TEM FEITO,amigos são p/ sempre,tenha certeza disso!Agora,se "formiguinhas" escrevessem hummmm elas montariam 1 blog p/ colocar as aventuras,mas nenhuma teria história c/ árvore de natal em junho como eu hahahaha

Postagens mais visitadas