Não era nada óbvio (ou quando vais terminar a tua arte?) - PARTE II


Nunca mais o viu. Durante anos carregou a dor da saudade de uma frase não compreendida. E perseguiu, intimamente, o reencontro. Foram 10 anos de espera até o dia em que ela perdeu um vôo para revê-lo. O destino quis que, uma década após aquela frase ser proferida, os dois vivessem o romance que ela imaginou ao ouvi-la.
Um mega congestionamento impediu-a de chegar a tempo para fazer o check in no vôo de volta para casa. Teve de esperar uma hora e meia para pegar o próximo avião. Entrou na aeronave e lá estava ele, colocando sua bagagem. A mente não lembrou, apenas o coração, que disparou e disse: “É ele”. Quem? Não sabia.
Quando entrou naquele avião e o enxergou, sabia que ele a atraia, mas apenas quando chegou em seu lugar percebeu que já se conheciam. Ele colocava suas malas no compartimento em cima do lugar dela e ia sentar na sua janela. “Esse é o meu lugar”, ela falou. Ele sorriu e percebeu que o dele era do lado esquerdo. Naquela hora, em que os dois olhos se cruzaram, ela teve a certeza de que era ele. Que era alguém de seu passado. O coração dizia, mas a mente não lembrava.
“Eu conheço esses olhinhos”, pensou ao sentar-se. “Mas de onde? Quem era ele?”. Da janela dela ouvia o que ele conversava em sua janela. Mas não reconhecia a voz. Apenas os olhinhos brilhantes. O coração acelerava, no compasso dos olhos que fizeram contas 10 anos antes. Uma melodia soava em seus ouvidos, mas a letra da música não era rememorada. Assim como a mente insistia em não reconhecê-lo.
Do outro lado do corredor, ele falava muito, sobre vários assuntos, o que dificultava a ela lembrar de onde se conheciam.
A melodia que ouvia internamente, o coração acelerado e a voz dele formavam um conjunto de sons que o resto, ao seu redor, não era percebido. Foi quando ela desistiu de fazer o cérebro rememorar o que o coração já sentia que veio a lembrança. Ouviu a voz de um conterrâneo, que estava com ele no dia em que se conheceram, uma década atrás. “Você marcou a minha vida”, veio à mente a letra da música do Tim Maia. Então, da sua janela, ela proferiu o nome dele, em direção à outra janela. E os olhinhos brilhantes perguntaram de onde se conheciam. “Foi há uma década”, ela disse. Impulsionado pela curiosidade e, talvez, pelo mesmo desejo que o fez, há 10 anos, vir conversar com ela e falar aquela frase, ele resolveu sentar ao seu lado e conversar.



Julho/06

Em partes porque é muito longo

Comentários

Frederico disse…
sim...

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