Não Era Nada Óbvio (ou quando vais terminar a tua arte?) - Parte I


“Com a primeira eu tive dois; com a segunda eu tive um e com a terceira não vou ter nenhum”. Ao ouvir isso, seus olhinhos reviraram e fizeram cálculos como nos desenhos do Tio Patinhas, com cifras girando. No caso, anos girando. E rapidamente pensou que ela seria a terceira. A definitiva, aquela com a qual ele não teria filhos. Mas ficaria até o fim de seus dias.
Nunca o tinha visto antes. Mas ficou encantada com aquele homem grisalho, que chegou do nada e disse aquela frase. Daquele dia em diante os dois passaram a se encontrar casualmente, como da primeira vez, em diversos lugares da cidade. Moravam em bairros vizinhos, sem saber. No supermercado, lá estava ele. E os dois conversavam. Na praia, no calçadão, quem ela encontrava? Ele. E ficavam de papo, sempre, como velhos conhecidos.
Até que um dia ele foi embora da cidade. E ela não pode se despedir. Então, além da frase, sem explicação, ficou com uma melodia na cabeça: “E de tristeza vou viver. Aquele adeus, não pude dar”. “Gostava tanto de você” era o nome da música, do Tim Maia. Nunca mais o viu. Durante anos carregou a dor da saudade de uma frase não compreendida. E perseguiu, intimamente, o reencontro.


Como o texto é grande, será publicado em partes

Julho/06

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