Entre as linhas eu encontrei o teu sorriso

Por onde andas? Não sei. Só sei que o teu sorriso me acompanha. Grande como os meus passos largos. Aberto como os teus braços.
Não lembro teu rosto. Nem a cor dos teus olhos. Apenas o teu sorriso está comigo. Onipresente.
A vida toda os olhos foram meu fascínio. “Espelhos da alma”. Por isso, sempre olhei firme, dentro do olho do outro. “Isso que me chamou a atenção em ti”, um dia ouvi.
Os olhos... Olhos castanhos, amendoados, tortinhos, grandes e arregalados, dissimulados, com rugas, olhinhos brilhantes... Pretos. Olhos de ressaca? Muitos olhos passaram. Mas não lembro dos teus. Apenas do sorriso.
Queria ser uma poetisa concretista. Assim, podia escrever um poema com teu sorriso. Fazê-lo na forma dele. Um ode ao teu sorriso. Desenhá-lo entre as linhas...
O teu sorriso é aberto como os braços para o abraço. Grande como os meus passos. De um lado a outro do rosto.
O que diz o teu sorriso? Não consigo decifrá-lo. Mas ele está comigo em meus pensamentos. Escancarado.
O teu sorriso é o espelho da tua alma. Gracioso, como se a vida fosse eterna juventude. O teu sorriso é como um presente, que alegra a vida de quem te acompanha. É sincero como apenas uma pessoa pura pode ser. O teu sorriso transborda um que, que eu não sei o quê. Enigmático. O teu sorriso é o meu brinquedo. Quisera eu poder tateá-lo, desenhá-lo. Quisera ficar frente a frente com ele uma distância apenas suficiente para admirá-lo tão-somente e nada mais. Talvez saboreá-lo. O teu sorriso me desconserta, me inspira.
Não sei por onde andas. Apenas o teu sorriso me acompanha. E no meio dos rabiscos, entre as linhas do meu texto, eu encontro o teu sorriso, feliz como uma criança. O teu sorriso, criança.

Sampa
Agosto/O6

(Ela pensa que é literatura)

Para ler ao som de Garotos (Kid Abelha/Educação Sentimental - 1985) e Garotos II (Leoni)