Palavras ao vento

Eu ouvi as tuas palavras e fiquei cega por elas. Eu acreditei nas tuas palavras. E, a partir daquele dia, vivi por elas.

Eu te ouvi e escutei o que, no fundo, queria que falasses. Mas eram apenas palavras... palavras soltas ao vento, que se desmancham no ar.

Tuas palavras me motivaram e eu as segui. Tu, não. Segui tuas palavras como a mais bela canção de amor. Cantarolava-as comigo.


Cega fiquei com tuas palavras que não vi que cantava sozinha. Cega insisti nas tuas palavras e me movia por elas. E nada, nada, nada que fizesses me demoveriam da idéia de acreditar, pelo simples fato de eras o detentor das letras mágicas.

Cega e confiante, eu via tu desmoronares o que tínhamos construído. Então, era tudo ilusão? Apenas palavras? Cega, o mundo ruía ao meu redor e eu imaginava que passaria – como das outras vezes -, agora mais do que nunca, pois eu acreditava nas tuas palavras.


As palavras que me moveram, no entanto, ficavam cada dia mais escassas. Não ouvia mais de tua boca doces palavras. E me calava, porque acreditava que elas estavam apenas silenciosas. Mas elas se desmoronavam! E eu não via (ou não queria enxergar).


O tempo passou e as palavras não-ditas se transformaram em um abismo. Eu mirando aquelas que ouvira lá atrás. Tu em silêncio.


As palavras não-ditas se transformaram em pura convivência. E eu resignada acreditava nas palavras do passado. As palavras não-ditas viraram rotinas. E um enorme silêncio se fazia presente. Silêncio de palavras. Silêncio de desejos. Silêncio de paixões. Silêncio de quereres. Silêncio de amor.


Então, eu me descobri falando as nossas palavras sozinha. De novo, como em outras vezes acontecera. Mas destas vez as palavras doíam porque eram as nossas, as tuas e as minhas. As palavras queridas. Doíam porque eu acreditei nas tuas palavras. Doíam porque, acreditando nelas, me movi nesta direção. Doíam porque eu descobri que meus castelos eram de areia. Doíam porque eu descobri que tuas palavras eram ao vento.


O silêncio se transformou, para mim, em desumano. Nunca antes um silêncio me doeu tanto. Porque nunca antes ele se fez depois de palavras nas quais eu acreditei. O silêncio me doía e eu me contorcia. Mas tu não ouvias! Tu não ouviste os meus gemidos de dor por um amor que se esvaia. Gemidos de letras me escorregando pelos dedos. Calaste-te no teu silêncio, enquanto eu me agarrava às tuas palavras...


Então eu também calei. Mas segui acreditando nas tuas palavras. E eram por elas que eu me calava. Quem sabe o meu silêncio falava o que os meus gemidos não te permitiam ouvir? Quem sabe tu vias nos meus olhos as tuas palavras refletidas? E o meu silêncio te doeu. Eu sei. Por mais que não digas nada, eu sei que o meu silêncio falou. Mas tu não quiseste ouvi-lo e te jogaste pelo abismo, enquanto eu fiquei com tuas palavras ecoando nos meus ouvidos.

Comentários

Anônimo disse…
Oi Neila, lindo texto, quntas vidas não viveram issso mas terminas com uma saida madura de dentro de si deixando ao outro o que dele veio e que dele viva o que lhe aprouver.
Parabens, estais muito competente nesse trabalho, falo de competencia de qualidade e de alma principalmente.

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