O sonho

Há muito tempo que as duas não se viam. Teve um período de suas vidas que estiveram tão próximas. Agora estavam distantes. Fisicamente. Depois de anos de separação, iriam se reencontrar, na terra natal.

Vidas que um dia tiveram os mesmos ideais tinham caminhado para lados diferentes. Mas talvez, no fundo, ainda tivessem algo em comum. Quem sabe aquela amizade gostosa de outrora?


Marcaram de se ver na terra natal, na rua da amizade. Ela, de carro, seguia pela cidade, percorrendo caminhos que já haviam feito juntas. Ruas tão conhecidas, que lhe traziam lembranças. Ás vezes vinham como fotografia, outras como um filmezinho. O caminho era permeado de boas recordações. Até a rua do encontro.


Então, o carro parou em uma rua. A da saudade, a do reencontro. Depois de muito tempo, as duas se veriam de novo. Lá dentro, o coração palpitava e a curiosidade a fazia olhar para todos os lados, à procura de um olhar conhecido. Lá fora, ao pé da escada de casa, a mesma sensação. A do reencontro. Quanto tempo! Como puderam esperar? Como puderam deixar que isso acontecesse?


Ela desceu então abriu a porta do carro. Surgiu um pé e depois outro. Calmamente terminou de sair e acenou para a amiga. Esta fechou os olhos por um instante, aquele do suspiro, do reencontro.


Há quanto tempo não se viam... os dois corações pensavam. Uma caminhava na direção da outra. Foi quando a amiga parou e contemplou a outra, um pouco distante ainda. Fechou mais uma vez os olhos e abriu um sorriso de contemplação. Olhou para a amiga, de novo. Ela caminhava em sua direção. Carregava, pela mão, um menino. Um pequeno guri, de olhos escuros e pele branca. Um menininho de cabelos negros como o breu da noite. Um garoto com olhos de jabuticaba.


Talvez nunca mais se vissem depois daquele dia. Talvez viessem a estar próximas de novo. Ninguém nunca saberá com certeza. Para a que fica, restou a imagem. A imagem da felicidade. Da amiga em sua direção. Da amiga com sua mais bela obra de arte.

Comentários

Postagens mais visitadas