Atrás da porta


A porta estava fechada. Nem encostada, nem trancada. Apenas batida como a gente fecha o quarto quando vai dormir.
Atrás da porta, ele espiava pelo olho mágico, sem ela perceber. E, como não estava trancada, virou a maçaneta e espiou pela porta entreaberta. Ela, que estava distraída, deixou ele entrar.
Sem barulho, pé ante pé, ele foi adentrando em sua vida. E ela foi abrindo as portas. Uma a uma. Quando viu, a casa estava toda aberta, escancarada por aquela vida. Sua vontade agora era trancar tudo, com ele ali dentro.
Porque as portas tinham sido abertas de um jeito diferente, ainda não vivido. Portas que um dia ficaram encostadas. Que foram batidas. Fechadas. Trancadas. Que outrora foram abertas por ela. Ou de sopetão, sem pedir licença. Portas com campainhas tocadas. Com olhos mágicos espiados. Portas usadas de diversas formas.
Agora ela olhava para todas aquelas portas sem saber o que fazer. Sentindo a dor da porta arrombada sem querer. E o desejo atrás da porta.

Sampa
01/04/07

Comentários

KahSilva disse…
Quando deixamos nossas portas abertas estamos sujeitos a ter um pouco de sofrimento, mas também nos abrimos ao prazer.Vontade de fechar tudo e deixar ele lá dentro!!Um beijo!!

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