Presentes

Hoje de aniversário eu queria ganhar aquele bouquet de rosas vermelhas que tu nunca me deste. Queria ouvir a tua voz do outro lado da linha. Que tu entrasse por aquela porta, de onde saíste duas vezes calado, sem olhar para trás. Queria dividir contigo o vinho, dando risada das tuas histórias. Ouvir, deitada naquela rede, o CD “Viva la tristeza”. Que surgisse na minha festa como da outra vez. Que saciasses meu desejo e saudade. Mas talvez o melhor presente fosse virar a página...
Hoje eu queria de presente dividir o bolo e os amigos contigo, como de outras vezes. Sentar no teu colo e tomar mate. Brincar de tu-tu-tu contigo. Queria que me chamasse como quando aprendeste a falar. Fazer as pazes contigo. Comer Bib’s no cinema contigo. Tomar vinho e comer queijo na lareira.
Eu merecia hoje que a minha cidade ideal fosse a mesma de todos os que amo. Que os cantinhos que eu gosto pudessem estar todos reunidos no mesmo lugar. Que as minhas crianças estivessem comigo. E todos os verdadeiros amigos.
De aniversário eu queria não ver mais crianças nem velhos pedindo esmolas. Não ver homens comendo lixo, nem sem casa.
Queria hoje, como comemoração, encontrar o pai do Pedro. Ver os olhos brilhantes da pergunta e ouvir a gagueira do outro lado. Queria dançar até o dia da minha morte. Que eu pudesse viver da arte. Que todos pudessem viver do que gostam. Que a minha fitinha do Nosso Senhor do Bom Fim se arrebentasse. De aniversário eu queria esses presentes...
Acho que vou ter de fazer muitos aniversários ainda...

Em 04/07/06
Sampa

(Da série: Ela pensa que é literatura)