Metamorfose

Nasceu leve como uma pluma e colorida. Tinha as asas vermelhas com bolinhas pretas. Por onde passava, encantava. Pousava suave nas mãos de quem se permitisse a sua graça. Parava em flores, onde as vezes era surrupiada. Era feliz. E mostrava-se ao mundo.
Mas as asas eram curtas e não permitiam grandes voos.
Queria asas mais compridas. Queria voar para mais longe. Queria quereres distintos. Mas não queria perder a delicadeza, nem as cores. Muito menos a alegria.
Queria continuar a passar e a encantar. Queria ser a alegria dos outros. A festa da chegada.
Suas asas então cresceram e ela podia ir a lugares antes nunca imaginados. E porque os percorreu, suas asas tornaram-se opacas. A vida não lhe permitiu o colorido de outrora.
Mas continuava leve e delicada. Produzia o doce que saciaria a alma dos outros. Se lhe tocassem, era aveludada. Mas protegia-se com seu ferrão daqueles que tentavam surrupiar-lhe.
A vida lhe dera responsabilidades e cuidados. Seu ferrão poderia ferir mortalmente e seu mel curar. Seus grandes olhos viam tudo e sentiam falta do passado.
Faltava-lhe a alegria de outrora, o colorido de antes, com a liberdade de agora. De que lhe adiantava a construção de uma colmeia?
Foi então que olhou para o zangão e disse: "deixas-me ser borboleta".
Queria as asas grandes e coloridas. Queria enfeitar, alegrar os ambientes. Queria ser doce sem ferir. Queria voar...
Olhou para o espelho e disse: "Quero ser borboleta", consciente da efemeridade da vida. Queria ser a mais bela e rara borboleta. E voou para fora da colmeia.  "Quero ser borboleta e depois morrer".
Ou quem sabe as três aos mesmo tempo?



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