Desejos

Minha vinda para Brasília, há quase 13 anos, fez eu conhecer e gostar do Lenine. Foram muitos shows nesse período. O primeiro, num aniversário de Brasília. O último, também em um aniversário da cidade que um dia eu escolhi para viver.
Hoje, de volta pra casa, ouvi a canção abaixo (Meio Almodovar), que não conhecia. Fiquei pensando sobre esses 13 anos aqui - o exílio que se tornou opção. Eu dirigia e prestava a atenção na letra. Quantas vezes não pensei naquela história de 16 anos como num filme. "Durou muito pouco, doeu muito mais" e pensei no querido lá atrás e não alcançado e como os desencontros me doeram.
 "Foi breve promessa de felicidade. Eu morro de saudade do que era pra viver", prossegue a canção. Eu era a promessa de felicidade, ouvi um dia. E, de repente, ocorre o reencontro e eu fico com saudade do que era pra viver. Porque nunca vivemos. E, quando a oportunidade se apresenta, desperdiçamos-a.
 "Meus olhos do passado num futuro que não sei", e não é o que se apresenta hoje? Inevitavelmente, antes de eu chegar em casa, as lágrimas escorrem. Eu sabia que o ciclo de Brasília terminaria. Pode ser que eu viva outros, ou quem sabe não. A minha intuição dizia que partiria. E, em determinado momento, eu pensei que o meu coração me levaria para um lugar - que estaria como na canção do Fogaça, ao sul do meu amor. Eis que eu sigo outro caminho e tudo o que eu queria é que a canção não passasse de desejos. Porque, infelizmente, minha intuição diz que desperdiçamos a última chance, que não há como ter outras oportunidades depois de todas as colocadas ao longo desse tempo, com todos os desencontros. Então, a canção termina e Lenine segue com "Paciência".




Meio Almodóvar

Lenine



Foi só um ensaio
Foi só um insight
Durou muito pouco
Doeu muito mais
Foi trailer de filme
Ensaio de orquestra
Foi jogo suspenso
No auge da festa
Foi curto e intenso
Canção de Caymmi
Foi meio Almodóvar
Foi meio Fellini
Foi como um cometa
No céu da cidade
Foi breve promessa
De felicidade
Eu morro de saudades do que era pra viver
E vivo da viagem de reencontrar você
Meus olhos do passado num futuro que nem sei
De tantas outras vidas
Mil pontos de partida
E todos os detalhes do que não aconteceu
Repetem o roteiro pra mostrar você e eu
O filme recomeça e nunca chega até o fim
E nessa nova vida
Não tem a despedida
Foi só a voz guia
Foi nem a metade
Foi estrela guia
Foi tanta verdade
Um mero rascunho
Mas foi divindade
Grafite no muro
Da minha saudade
Eu morro de saudades...

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