Desapego I

Ele sabia que seria a última semana comigo. E por isso, dormiu todas as noites nos meus pés. Então, eu o coloquei na maletinha e chorei. Quando chegamos em Porto Alegre, ele estava assustado. E, quando voltei pra casa, na segunda, ele não estava lá pra me aquecer. E aquele dia tinha sido tão triste pra mim, que tudo o que eu queria era ele deitado no meu colo, me afofando. Mas tudo é processo do desapego e eu sei que terei de me acostumar a ser só. Eu, apenas eu.
Agora, quando eu chego em casa, todas as noites, ele não vem mais me receber. Nem quando estou em casa, ele não desce do muro e se esfrega nas minhas pernas. Está em Porto Alegre, se esfregando em outras pernas. Recebendo carinho de outra pessoa. E eu não vou ver aquela bola peluda, preta e linda.
Ficarei sozinha nesse período de desapego. E ele é só parte do processo. Depois, Guri e Rabicó também irão. E a foto abaixo, da matéria do Correio Braziliense (uma reprodução mal feita minha), sobre pessoas alérgias que têm animais, talvez nunca mais acontença. Ficaremos cada um em um canto do país. Desapegados. Não sei se daqui um ano, um ano e meio eles vão me querer de volta. Talvez estejam muito felizes onde estiverem. E todas as brincadeiras que fizemos juntos ficarão apenas na lembrança. Rabicó e sua eletricidade (e choro, manhoso). Guri com a sua eterna bolinha na boca (e rabugento, ciumento). O Preto e a carícia na minha perna ou na barriga. Nós quatro juntos.

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