Vou morrer tetraplégica (é suicídio?)


Eu vou morrer tetraplégica. Só pode ser. De tanto me jogar de cabeça, dia desses vou bater numa pedra. É quase um suicídio.
Mas a sensação de sentar numa janela, sentir o vento bater e saltar para o desconhecido é maravilhosa. E assim eu faço cotidianamente desde que me dei conta que o medo me paralisava e me impedia de viver um grande amor.
Então, seja grande ou pequeno. Amor ou paixão. Ou nada disso, eu me jogo sem olhar para os lados. E me entrego como uma legítima canceriana (romântica e abestalhada). E vivo os meus dias a me dar. A oferecer. A compartilhar. A ser compreensiva. Enfim, a ser uma boba.
Só que há tempos apenas eu dou. E não recebo. Como uma fonte inesgotável. E cada dia cavo mais e acho mais um pouco. Sempre dando. Escutando. Oferecendo. E eu, quando vou receber?
A fonte secou. Vou ter de virar mercenária? Não sei. Só sei que hoje eu não vou dar. Hoje eu quero receber. Pode bater que a porta está fechada. Daqui não sai nada.
Hoje eu não vou pular para o desconhecido. Eu quero o conhecido a me ofertar. Eu quero de volta tudo o que eu dei, com juros e correção monetária! Eu quero os anos de doação, de entrega. Eu quero receber e nada mais. E com isso, pensar que ainda vale a pena saltar de cabeça, com os olhos fechados, sentindo a brisa no rosto. Sem encontrar pedras.
Para ler ao som de "Eu não paro", da Ana Carolina

Comentários

Anônimo disse…
ai, ai, ai...as lamentações dos cancerianos...
Neila, acho que ser típica canceriana (romântica e sonhadora) não há mal algum, muito pelo contrário. Acho linda a musica "Rosas" da Ana Carolina quando diz "...Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés
E não faço outra coisa do que me doar.Se causei alguma dor não foi por querer.Nunca tive a intenção de te machucar..." justamente por isso. Me identifico com ela e não reclamo por me doar, me "atirar de cabeça". Tudo é questão de ponto de vista, de aprender a se valorizar, se gostar. Eu me amo e pouco me importa se as pessoas se doam ou não, não me interesso por isso.Não deixarei de me dar, de me entregar por isso.Se as pessoas que me envolvo não me correspondem, pulo fora, não lamento, a fila anda. Sofrimento há sim. Mas não podemos cobrar por isso ou mudar nossa maneira de ser pq julgamos estar numa via de mão única, onde apenas nós (cancerianas) damos o braço a torcer, nós voltamos atrás, nós nos entregamos por completo, nos doamos. "Carpe Diem"
Beijos.
Anônimo disse…
Neila, Nádia é sua irmã? Nossa! Que surpresa encontrá-la aqui e que bom saber que ela escreve bem assim como você. Surpresas da vida que nos aparece repentina em suas transitórias personagens. Tendo eu viajado por mais de 50 cidades no mundo e tendo já conhecido tantas pessoas antes desse papo de internet e orkut, DOAR-ME foi essencial. Doar-me por completo e entregar-me ao outro ser humano como amigo de fato. Eu reconhecço que é lamentável a reciprocidade do "doar-se" e as pessoas ainda não gostam de "doar-se" às outras. É meio complicado mesmo! Imagina, tem dia que você não quer doar nada, que você quer receber e daí não tem quem o faça, e na maioria das vezes é assim. Para além de uma mera combinação zodiacal (sendo eu virginiano e tanto quanto perfeccionista) noto uma sociedade ainda despreparada para a doação. Doar-se significa atender ao que sua irmã soube salientar no que propomos como ser e no destino para si mesmo. O outro é apenas o anteparo, o receptáculo... Às vezes ele está preparado, nas outras nem tanto e ele perde aquilo que doamos à ele com todo carinho. Problema dele, né. Bjinho.
KahSilva disse…
Uma romantica sonhadora, isso sim é o que você .Eu também sou assim, me entrego toda.Mas tem horas que a gente quer a reciproca, e por que não vem?Espero que voc~e possa encontrar a sua, alguém que seja contigo o que você é com os outros.Um beijo enorme.
PS:não posso vir todo dia, mas sempre que passar leio tudo tá.
Frederico disse…
Achei muito bonito, realmente.

Postagens mais visitadas