Presentinho

A vida estava assim meio sem graça. Morna e sem tempero. Sendo levada ou carregada. Em um ritmo de compasso de espera. E a trilha sonora era melódica, mas triste. Ao mesmo tempo em que ela se apresentava desta forma, a dona da vida trazia em si uma enorme vontade de sacudi-la. Uma energia acumulada precisava desaguar. E uma vida não vivida, ser apreciada.
Numa noite quente de verão aqueles olhos pretos de gato cruzaram em seu caminho. Ela que não esperava nada, de repente se via com uma vida ao seu lado sendo oferecida. E os olhinhos de gato ficaram irradiando aquela energia, que ela levou consigo.
Agora a vida tinha um quê diferente. Quente e salivando, desejando aquele tempero. Caminhando para algum lugar. Em um ritmo de compasso de espera, mas com busca – do encontro do olho de gato. E a trilha sonora era intensa e alegre. Quando ela não esperava nada, a vida lhe presenteava...
Então, em uma noite quente de verão, sob a luz da lua cheia, aqueles dois olhos se encontraram. Ela, que agora esperava, via sua recompensa em mãos. E os olhinhos de gato ficaram irradiando uma energia, que ela levou consigo.
A partir deste momento, a vida estava cheia de graça. Queimando em brasa, de desejo e de tempero. Caminhando junto. Em um ritmo de espera pelo outro, de contagem das horas para o encontro. A trilha sonora era alegre e suave, como uma canção ao pé do ouvido. E a dona daquela vida carregava consigo aquele presente inesperado.
Agora todas as noites eram de verão e de lua cheia. Com os olhos de gato a espreitá-la. E um acolhimento enorme que ela não sabia de onde saía – da vida ao seu lado sendo oferecida e usufruída. Quando ela não esperava nada, a noite quente de verão com lua cheia havia a presenteado. E hoje simplesmente vive a vida não vivida e que precisava ser apreciada.

Sampa
03/03/07