Sampa 459

Nesta sexta, São Paulo completou 459 anos. Lembrei-me da festa dos 450. Eu estava lá. Tinha ido a Sampa fazer o vestibular para Dança e para o casamento de uma amiga.
Nove anos se passaram. Minha amiga tem um casal de filhos, parece feliz. Eu conclui a faculdade, voltei para BSB. Fui feliz em Sampa e fiz bons amigos.
Engraçado olhar pra trás. Ouvi outro dia que eu sempre me adapto. É, talvez, enfrento o medo e sigo minha vida cigana atrás dos meus sonhos. Mesmo que nem sempre consiga realizá-los.
Nesta sexta de aniversário daquela cidade que me deu o diploma, a porta de entrada para outro mundo, pela primeira vez, nos últimos tempos, meu coração ficou pequeninho.
Tenho sonhos tangíveis e intangíveis e, por estes últimos, sou capaz de idas e voltas a lugares e estados de espírito. Mas, infelizmente, nem todo o esforço adianta. Por poucas coisas na vida somos realmente capazes de algumas coisas. Algumas pessoas, por nada.
Esta noite de aniversário de Sampa, meu coração sentiu aquela imensa dor que poucas vezes ele sentiu. Uma das vezes que a dor física tomou conta dele foi quando minha avó morreu. Outra, foi naquela noite de dezembro de 2002, quando eu virei uma página. Hoje eu queria o colo de minha vó.
Meu coração foi da euforia à desilusão. Pela primeira vez, sem palavras, sem nada, ele se apertou. Sem uma decisão minha ou um querer. Eu simplesmente cheguei em casa e meu coração me disse e me doeu. Aquela dor imensa, como se arrancassem um pedaço dele e esse buraco. Apenas uma constatação. Queria eu que fosse apenas medo. Mas a dor insiste em dizer que não. Eu amo, eu quis, eu tentei. Mas é pouco.
E dói do mesmo jeito que naquela noite de 2002. Imensamente. Mas sei que passa, como daquela vez. Com a certeza de que se passaram 10 anos e não dá pra deixar mais 10. Já não somos tão jovens, como diz a música. E tem tanta vida lá fora, para que adiar? "Não quero mais deixar a existência para mais tarde", diz André Gorz, em Carta a D.
A vida passa, podemos tentar recomeçar ou não. Eu quis. Mas essa dor no meu peito diz que não adianta eu querer, porque talvez os quereres ou expectativas sejam diferentes ou as coragens. Não sei. Não ouvi nada. Nada me falaram. E, às vezes, o silêncio fala mais. Hoje, o silêncio de minha casa fez o meu coração sentir esse vazio e constatar que o que era euforia minha era apenas ilusão.
Lá fora chove sem parar. Aqui dentro também e eu tento dormir ao som de Via Láctea. Há 10 anos, eu me agarrei a minha gata e chorei. Hoje, o Preto subiu no peito doído e me afofou. Enquanto eu tento aplacar a insônia que me persegue há dias, enquanto eu tento secar as lágrimas que insistem em correr, o Preto parece dizer que meu coração está enganado, que eu choro à toa. 

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