Desumano

Sei que como espírita não devemos propagar as nossas boas ações. Não importa aqui, pensar no bem que fiz - tão pouco perto do que poderia fazer e do que sei que alguns amigos são capazes. O fato narrado, pra mim, serve como uma reflexão, apenas.
Estava eu tomando meu café, pós almoço, na Torteria. Ouvi então: Menina, você me paga um almoço? Olhei pra ele e disse: mas aqui não tem almoço. E ele: no Giraffas. E lá fomos os dois para a loja do Giraffas, no fim da rua. 
Na loja, entrei e peguei o cardápio. Ele não entrou. E isso mexeu comigo. Ele não teve coragem de entrar. E vi que quando ele viu o cartaz com um prato de feijão com arroz, exclamou. Fui até ele, com o cardápio na mão e disse que escolhesse o que quisesse. Ele ficou na porta. Me chamou para mostrar a escolha (um sanduíche e não o prato de arroz com feijão). Perguntei se eu pedia para ele comer ali ou levar. Titubeou e respondeu: levar. 
Enquanto aguardava na fila para pagar, o segurança foi lá falar com ele. De onde estava, eu disse: estou pagando o lanche dele. Paguei e entreguei a ele o cupom, dizendo para esperar. Avisei no caixa que o chamassem, pois vi que ele não tinha coragem de entrar e aguardar lá dentro, olhando no monitor o número da senha. 
Saí dali pensando: o que é mais desumano, as pessoas não quererem ele lá dentro ou ele aceitar esta condição e não ter coragem de entrar? Estava atrasada para a aula, que começava às 14h. Fiquei pensando no carro, se não devia voltar, esperar a comida ficar pronta e fazê-lo comer lá dentro, sentando. Afinal, ele tinha este direito. 
Quando passei em frente ao estabelecimento, de carro, não o vi. Pensei: será que a comida já ficou pronta, levaram ele dali sem comi ou foi tudo uma miragem? E sabe o nome do sanduíche escolhido? Brutus. 
Pensei: é, hoje é dia de voltar à Comunhão Espírita, pensando na passagem do Evangelho que diz: que a tua mão esquerda não saiba o que dá a direita (algo assim). E não é que, quando eu abri o Evangelho, no início dos trabalhos, veio a passagem sobre a piedade, dentro deste capítulo. Lendo-a eu chorei e agradeci pelo presente que recebi naquela tarde de sábado. Ali fui um pouco mais humana, num mundo tão desumano. No domingo, no espetáculo da Denise Stoklos, este tema também foi discutido. Desumanidades.... Ainda temos muito a aprender. 

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