Pequena


O menino, com 12 anos, olhou para a tia e se achou muito grande. Chamou-a pelo nome, adjetivando-o: pequena. A partir daquele instante e durante todos os dias que se seguiram o adjetivo vinha antes do nome. Mas ele ainda não era grande, nem gigante. Talvez mais um ano a ultrapassasse.
O adjetivo, definitivamente, não a incomodava. Pelo contrário, achava engraçado.
- Pequena tia, você já tomou banho? Pequena tia, que horas vamos jantar?
E a pequena lhe respondia e se divertia. Sobrinhos crescem e dali a pouco ele não seria mais pequeno e não mais iria querer que ela lhe fosse companhia. Buscaria outras diversões mais engraçadas do que encalhar baleia na praia.
Eis que um dia, a pequena o surpreendeu. E, com isso, ganhou outro adjetivo. Os dois sentaram-se à mesa para o lanche da tarde. Ela havia esquentado o leite e o colocara na xícara. Tinha de pegar então um pouco de leite frio para misturar e deixar o café numa temperatura agradável. No automático, abriu a geladeira, pegou a caixinha, despejou na xícara do menino e sentou-se para sorver o seu café - com outro leite que não o de vaca.
- Tia (sem pequena), esse leite está com gosto estranho - ele falou.
- Que gosto estranho, guri, é leite - ela respondeu. E continuou sentada, lembrando-se do dia em que a mãe colocou sal ao invés de açúcar em seu café. Ele insistiu. Foi então que ela cheirou o leite. Hummmm docinho... E caiu na gargalhada. O guri não entendia nada. E ela disse: põe o chocolate que deve ficar bom.
- Não, tia, esse leite não está bom - ele insistiu.
E ela, rindo, foi até a geladeira. Lá dentro, três caixas, no mesmo formato: leite de soja, leite de vaca e suco de abacaxi. Seu chocolate seria premiado...
Às gargalhadas, mostrou ao menino o erro e pegou o leite certo. O guri, que sorvia seu café numa xícara com a inscrição: super filho, olhou para ela e falou:
- Se tivesse uma xícara escrita super tia pateta eu comprava pra ti.
Pronto, agora, além de pequena ela era também pateta.

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