Esperando Godot II

Outro dia li a postagem de um amigo ou amiga, não lembro, que trazia um texto de Chico Xavier. Dizia ele que o amor não esperava nada em troca. Fiquei pensando: será?
Tá bom, talvez eu não fale do AMOR, mas dos AFETOS...
Não esperamos mesmo nada em troca, nós, humanos? Fiquei pensando, naquele dia: entre as amizades não, mas em outras relações de afeto, sim.
Hoje voltei a pensar nisso. Será mesmo? Será que não esperamos nada mesmo, nem das amizades sinceras? Das AMIZADES assim, com letras maiúsculas? Será que quando precisamos, não esperamos que o(a) amigo(a) dê o colo, o conselho?Será que não esperamos das amizades fidelidade, lealdade? Talvez não demos pensando na recompensa, mas acho que quando precisamos, esperamos sim.E nos decepcionamos quando não recebemos.
E o que dizer, então, dos outros relacionamentos afetivos? Não esperamos nada, mesmo, dos nossos pais? E dos(as) companheiros(as)? Não é natural estarmos com dor muscular e esperarmos que o(a) companheiro(a) faça uma massagem? Querer que ele(a) ouça o problema do trabalho ou compartilhar com ele(a) a alegria? Querer receber dele(a) colo?
Não sei se naquele texto ou em outro, falava algo que quando damos sem esperar, recebemos. É verdade que às vezes recebemos sem esperar nada... Mas será que sempre que damos sem esperar, recebemos? Ou será que alguma vez damos sem esperar? Não falo em caridade, em coisas materiais, etc. Falo dos AFETOS com aqueles(as) com os(as) quais nos relacionamos.
Às vezes tenho a sensação de quem muito dá sem receber se esvazia. Talvez porque, como humanos, no fundo, estamos sempre esperando. Mas que nossas esperas nem sempre se concretizam porque, afinal, somos humanos e somos diferentes. O máximo da intensidade de uma pessoa pode ser considerado o mínimo para outra. O amor não se mede... Mas provavelmente aquele(a) cuja intensidade seja maior, ou que tenha a sensação de que é maior, fique frustrado(a).
No fundo, nas relações, tenho a sensação de que sempre estamos Esperando Godot, como na peça de Beckett.
. Não há uma equalização entre as expectativas. Talvez, no fundo, sempre damos esperando a recompensa. O beijo de bom dia, o abraço na hora certa, o obrigada, o sorriso, o secar as lágrimas, etc. E esperamos Godot exatamente por não equalizarmos as expectativas. Ou porque damos esperando a troca, não sei.


Ver também: Esperando Godot. 

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