Estações

O acaso os levou aquele lugar naquele dia. Um fim de inverno. Um início... Estavam em um coquetel e, enquanto ela se servia, seus olhares se cruzaram. Mas suas vidas tinham destinos diferentes. E ele estava ocupado demais.
Dois anos depois, se reencontraram. Parecia o acaso, de novo, talvez. Mas ela tinha a sensação que o veria de novo. Não disseram nada. Apenas os olhos falaram. E ele a levou para casa. Beijou-lhe suavemente a boca, na despedida, convidando-se para entrar. Mas ela tinha medo, medo demais do tempo que os separava. Era verão.
Um ano e meio depois, chocaram-se em um corredor. Disse-lhe que precisava conversar sobre o passado. Não conseguiu. Viu-a embarcar em um avião e escapar-lhe pelas mãos, como as folhas secas que o vento do outono leva.
Passaram-se, então, outros 18 meses. Encontraram-se na rua. E decidiram que consumariam aquela paixão que os consumia há anos. E depois? Não haveria depois, pois a paixão acaba como o fogo que se apaga depois de uma tempestade de verão.
Estavam errados. Encontraram-se, outras vezes, esporadicamente, no ano seguinte. Fugiam, repeliam-se e se achavam. Queriam e temiam. Queriam e não podiam. E, então, um dia, ela desligou o telefone. Não mais canções, esperas, corações palpitantes. E a vida seguiria. Em qualquer estação.
Passados oito anos do primeiro encontro, mais uma vez a vida os colocava lado a lado. Um telefonema. Apenas um telefonema. Mas ela estava ocupada.
Um ano depois, se viram novamente. Ele ficou esperando dela uma ação. Ela, uma reação. Esperaram em vão. Quem sabe num próximo inverno, o verão não aqueceria seus corações?
Cinco anos se passaram e, de novo, na mesma cidade do primeiro encontro, eles se veem, na rua. Seus olhares se cruzaram e nada falaram. Uma lágrima talvez lhe tenha escorrido do rosto. O passado se apresentava no presente sem futuro. Era primavera...
Veio o verão, o outono, o inverno. E mais uma primavera. Passou-se outro verão, outono, inverno e uma nova primavera. No verão seguinte, encontraram-se. Seus corpos arderam no calor escaldante da estação. Quiseram fazer juras de amor. Mas não. E o outono chegou e levou com ele as folhas daquele amor. Para longe, longe...
Passados 10 meses, mais uma vez se encontraram. A mesma cidade. O mesmo lugar. Tudo como no início. Olharam-se. Deram um passo a frente em suas direções. Mas ele recuou. E o verão chegava ao fim.
Como no ciclo natural das estações, acharam que assim seria sempre. Sempre se reencontrariam. Mas, na verdade, nunca se encontraram.

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