Em 2016

A artista Marina Abramovic fez uma performance em 2010, em que ficava imóvel, sentada, recebendo a plateia. Não falava nada. Apenas sentia. Foi quando seu ex-marido, separado há 20 anos, chegou. O reencontro emocionante foi uma das coisas mais faladas na época - e ainda o é.
Recentemente, revendo-o - Marina estará no Brasil ano que vem - lembrei de uma história. E disse: nos vemos em 2016.
Mas não o será. Paulo Sant'Anna já disse um dia - e eu reproduzi aqui ano passado - que não devíamos reencontrar ex-amores.
Reencontros podem nos fazer pensar no que não foi. Podem nos fazer reviver o sentimento do passado. Podem nos fazer querer viver o que não foi. Reencontros podem nos mostrar que o outro não é o que era, ou talvez nunca o tenha sido. Reencontros nos fazem enxergar o outro com outros olhos. E, às vezes dói.
Durante muito tempo de minha vida pensei no que não foi, escrevi sobre este tema e sobre esta história. Hoje, sei que ela deve ficar lá no passado. Afinal, de que adianta ser o amor da tua vida, se não pode ser revivido?
Então, não haverá 2016. Não haverá porque não há mais laços. Os rastros foram apagados. Sem telefones, emails, conexões. Se, um dia, seríamos sempre anjos da guarda do outro; hoje, depois do reencontro, eu sei que não. Porque hoje eu vejo que amei um holograma de uma pessoa. Não a pessoa real.
Sem contato algum, não nos reencontraremos. Nunca mais. Mesmo que nunca seja tempo demais...
É verdade que a vida pode nos pregar peças. É verdade que é possível, quando se quer, achar uma pessoa de novo - mesmo sem rastro. Mas é verdade, também, que é possível o nunca. É possível o esquecimento.


Comentários

Postagens mais visitadas