Um dia na tua vida - Parte II

Parte I

Chegas ao trabalho. Sobes as escadas rapidamente, mal vendo quem está ali. Entras na tua sala. Agora até enxergas as pessoas. Ligas o computador e o telefone toca. Um colega em frente conta uma piada. Outro traz o chimarrão. Estás compenetrado. Não te permites brincar... Espia-me para ver como é: chegar ao trabalho cantarolando, dançando. Falar bobagens e fazer os outros rirem. Tomar um chá, enquanto resolve os problemas. Se divertir mesmo na seriedade. Viu só? Nossos ritmos podem ser intensos, mas vivemos de maneiras diferentes. É uma questão de escolha. Depois de certa idade não precisamos mais ser tão formais, não precisamos provar nada. Lembras-te disso.

Sai para almoçar ali perto com alguns colegas. Conversam sobre o trabalho. Voltas e segues nesta rotina de reuniões, telefonemas, emails, burocracia até o fim do dia. Entras no carro. E falas ao celular enquanto diriges. Reclamo. Respondes-me que estás usando o fone de ouvido. Mas não pode! Dá de ombros pra mim. Tu tens urgência. Para que a pressa, se estou ao teu lado? Não percebes?

Vais ao teu compromisso da espera. E caminhas em círculo enquanto aguardas. Eu olho de longe. Ficas muito melhor sem o terno. Para que usas a roupa do teu pai, se tens calças curtas? Não vês que o casaco esconde a realidade? Comportas-te como um guri, que não sabe o que quer. Ou seria um moleque? Ou um menino mimado? De que adiantam as máscaras? Muito melhor a bermuda e a camiseta, mas elas não combinam contigo. Tentas esconder as calças curtas. Mas eu as vejo!

Terminas a espera e trancafias-me para que eu não viva aquele instante, só teu. Por que me escondes de tua vida?