Encantos e desencantos



Tu chegas no novo lugar e se encanta com o casario antigo, com a lagoa, com as ruas arborizadas, com a vida cultural, com a natureza local. Com os sotaques. Ou desencanta-se com as árvores secas, com o verde escuro, com o cinza do céu, com os motoqueiros buzinando, com o barulho para dormir, com a natureza do concreto. Com os sotaques.

Ficas ali, a viver o encantamento ou desencantamento. Até que a ficha cai. Não, tu não estás de passagem. Vieste para ficar um tempo - mesmo sem saber se um ano ou quatro. E aí vem a revolta: o choque cultural. As pessoas não te entendem. Tu não entendes. Têm pressa demais ou de menos... Não tem aquele pão, os nomes são outros. As pessoas são feias. Os sotaques doem os ouvidos. Tu te perdes na cidade. As pessoas dizem: família fulana. Como? Tu não achas a casa. Não achas nada. Tudo é difícil. E estás longe de casa, dos amigos, da família. E a vontade que dá é pegar o primeiro avião ou ônibus, seja o que for.

Então vem a fase da adaptação. Se será um ano, como torná-lo melhor. Se quatro, como aguentar? E tu fazes os arranjos necessários para a tua sobrevivência.

Assim, antes do teu tempo expirar (ou quando estiver terminando), tu voltas à fase inicial, modificada ou não. Encanta-te o verde escuro, o céu, as flores. Desencanta-te o frio, a umidade. Encanta-te o colorido, a alegria. Desencanta-te os arranha-céus. Encanta-te a vida que pulsa. Desencanta-te o frenesi.

Ficas assim... Encantada. Desencantada. Até a próxima viagem. 

Comentários

Postagens mais visitadas