À sombra do nosso amor


Um dia, o teu olhar chamou o meu e eles se encontraram. Pisei em falso, sem saber para onde ir. Tentei fugir. Mas tu estavas lá a me olhar. E eu te persegui.
E apesar de teu olhar ter me chamado, pensava que só eu é que queria. E sonhava. Foi por ti que eu lutei pelas nossas causas, que eram as mesmas e nos aproximavam.
Um dia falaram de ti pra mim. E me contaram que tu também me perseguias. Eu gelei: todo mundo sabia, menos nós dois? Foi de ti que fugi e por ti que corri. Foi por ti que vaguei e tomei chuva, tendo como recompensa, no fim, o teu sorriso.
Um dia tu me abraçaste e me aconchegaste em teu peito e eu me senti segura, como nunca antes. E assim, aconchegada, tu me acariciaste. O tempo parecia outro, parado no espaço e nós dois ali a se olhar. Os nossos olhares definitivamente tinham se cruzado e os dois sabiam disso. Naquele dia tu me beijaste e eu tive medo. E fugi, como uma criança que apronta e tem medo de apanhar. Fugi e saí em disparada.
Foste tu o responsável por minha vida cigana. Foi por ti que eu me fui pra nunca mais voltar.
Um dia nós sonhamos juntos e caminhamos de mãos dadas naquelas largas avenidas. Não tínhamos medo de nada, só de nós.  E então acreditamos que o que sentíamos era menor do que realmente era. Mas não era, apesar de insistirmos em diminuir o nosso sentimento. E porque ele era assim, tão grande, eu tinha medo de te ter perto de mim.
Um dia tu me falaste que a gente nem sempre tem tudo do jeito que quer e, como uma criança mimada, eu te respondi que quando eu não tenho do meu jeito, prefiro não ter.  No fundo, ao teu lado, eu me sentia como uma criança aconchegada e segura, mas com medo da grande perda. E ela me doía imensamente.
Foste tu o meu maior amor. Mas também a minha grande dor. E aquele amor que não cabia em mim me doía. Foi então que eu te pedi que me deixasse viver sem o teu amor. Naquele dia eu fiquei com o coração aos prantos e aos pedaços, mas talvez porque o teu sentimento fosse tão grande quanto o meu, tu compreendeste o meu sofrimento.
Um dia tu tiveste medo que o tempo nos afastasse. Tu querias saber de mim, assim como eu de ti. Mas o tempo não nos afastou, mesmo que fisicamente estivéssemos tão longe. E eu pensei que apenas tínhamos mudado o sentimento. E talvez, isso, de fato, tenha acontecido. A vida que não vivemos juntos fomos buscá-la em outros cantos.
Mas apesar disso, ou por isso, era contigo que eu dividia. Era pra ti que eu contava as minhas decisões. Era pra ti que eu perguntava, questionava e pedia opinião. E tu sempre me acalmaste. Parecia que tu sempre sabias o que era melhor pra mim, mesmo que isso significasse eu estar tão longe.
Foi contigo que dividi minhas alegrias, mesmo que à distância. Foi pra ti que contei minhas angústias. E tu sempre me aconchegavas, mesmo distante. Tu estavas tão perto que parecia uma sombra. A sombra do amor que um dia sentimos, que era maior que a gente, que não cabia em nós. E talvez por isso ela assustasse aos que estavam aos nossos lados. Todos, menos nós, sabiam o tamanho dela.
Um dia eu pensei que depois de todos os desencontros nos encontraríamos. Mais tarde eu imaginei que nunca mais nos encontraríamos porque nunca nos desencontramos. Estaríamos sempre ali, lado a lado, sem dor, com o resto do nosso amor, transformado. Viveríamos à sombra do nosso amor e ela e nos bastaria porque sabíamos que poderíamos sempre dividir as nossas vidas, distantes.
Contigo eu dividi quase metade de minha vida. Eu te dividi com a vida. Eu dividi o nosso amor. Dividimos grandes paixões. Dividimos todos os nossos sentimentos, só não dividimos a vida juntos. Optamos por viver à sombra de nosso amor.






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