O Pai do menino


Um dia ela pensou que tinha achado o pai do menino. Ele não era muito alto, tão pouco baixinho. Uma estatura mediana. Olhos grandes, boca pequena, nariz idem. Lábio inferior fino. Entradas na cabeça e alguns fios grisalhos. Fisicamente era o seu tipo de homem.
Politizado, um homem de esquerda. Sempre antenado na política, participante. Tinham visões parecidas.
Foi pai de outro, não do menino.
O tempo passou e eu ela viu que, definitivamente, aquele não poderia ser o pai do menino. Tudo está igual, o modo de pensar, de agir, não houve evolução. Não, não, não, o menino é uma criança pra frente, super esperta, ligada no mundo ao seu redor. De fato, aquele não era pra ser o pai do menino.
Outro dia, um sujeito muito parecido com o primeiro candidato ao pai do menino apareceu na vida dela. O biotipo era o mesmo. Mas era de centro, não de esquerda. Galanteador, super atencioso. Inteligente, muito bem informado, culto, esperto, muito esperto. Assim como o menino é, ou melhor, vai ser. Só que o cara era galinha... E não podia mais ter filhos.
Então, ela resolveu mudar os padrões. Não mais engravatados, não mais homens “latinos”. Agora o pai do menino seria alto, bem alto. Com os ombros grandes e fortes. Pele clara e olhos, idem. Uma boca carnuda. Alegre e sedutor, como o menino vai ser quando crescer (ou quem sabe, desde sempre). Extrovertido. Cabelos grisalhos, indicando a sabedoria do menino.
A bem da verdade, ela não chegou a pensar que ele pudesse ser o pai do menino. Mas que, se quisesse, era um forte candidato. Afinal, além de o biotipo dele ser o do que as pessoas costumam chamar de “pedaço de mau caminho”, ele era muito, mas muito divertido. E o menino merece um pai à altura! Há que se considerar ainda que, aliado ao físico avantajado, ele amava as artes... Então, o pai do menino precisaria ter essas características. Isso era fundamental.
Talvez o pai do menino tivesse de ter um pouco de cada homem que passou na vida dela. Claro que só as qualidades dos amados, não os defeitos. Porque pra ser o pai do menino, precisa ser perfeito...
Então ela começou a se sentir como a Teresinha do Chico Buarque, em que ele chegou do nada, sem nada perguntar e se instalou feito um posseiro. Ficou contando as horas para o terceiro e definitivo vir. Afinal, dos três anteriores, dois tinham o mesmo biotipo... Valia só um...
E nas andanças da vida, espera o pai do menino. Não sabe como ele é, nem de onde vai vir. Só sabe uma coisa: O menino tem a pele bem branquinha, a boquinha carnuda e os cabelos escuros. E é lindo, alegre e saudável. Um criança encantadora. E ele já conta os anos para os pais deles se encontrarem.

Sampa
Julho/06

Comentários

Anônimo disse…
achei bárbaro o texto......me lembrei das muitas vezes em que me apaixonei e pensei:TAÍ UM BOM PAI PRA NICOLE......mas nenhum esteve a altura da filha encantadora,inteligente,especial que possuo.....continuo minha procura,mais light e menos agressiva......se tiver que aparecer certamente o fará!
um grande beijo
Lu

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