Xadrez
Era noite. A tela em branco do
computador esperava pela escrita. Pouco a pouco os dedos foram dedilhando o
teclado do computador e eis que surgia a frase:“O sonho acabou”. A tela, que já
não era branca, aguardava o enviar.
"O sonho acabou", dizia o
email. A
constatação de que um sonho pode não ser mais sonhado dói. Um sonho pode virar
um pesadelo; pode se esvaziar; pode necessitar de outra cama para continuar a
ser sonhado. O que vai ser de um sonho nunca se sabe. Mas a constatação de uma
impossibilidade de continuidade dele é um despertar sem querer. É como cair do
cavalo, inesperadamente.
O email resumia um pensamento. A vida é como
um jogo de xadrez. Nem sempre andamos apenas para uma direção. Às vezes é
preciso mover-se como o cavalo...
Dar voltas, andar em zigue-zague, recuar para
avançar. “Mas no final, você sempre consegue. Não do seu jeito, nem na hora, mas
consegue”. Se mudar a rota pode ser uma boa estratégia, por que não?
Enviar o email. Para quem? Para quem acredita
no jogo ou no jogador. Para quem espera o xeque-mate de um lado específico.
Para quem está na torcida.
Do email fez-se uma corrente, que acelerou o
andamento do jogo. O cavalo não pode saltar casas... mas será que não galopa?
Se a vida pode ser um jogo de xadrez, há que
se ter estratégias. Não é possível só usar o peão. Só andar na diagonal, como o
bispo. Ter as possibilidades da torre... E, às vezes, abrir mão do peão. Usar o
cavalo. O importante é preservar o rei. Mesmo que se percam algumas peças no
meio do caminho... Isso o email não dizia. Mas estava implícito.
Comentários