Eu choro
Enquanto volto para casa, as lágrimas
escorrem no meu rosto. E um filmezinho vai passando em minha cabeça.
Lembro-me de aos 17 anos ir fazer meu
título eleitoral. Eu queria votar num cara: Tarso Genro.
E, porque eu vi a minha cidade mudar,
dois anos depois, votava em Olívio e Lula, pois queria o mesmo para o meu
estado e o emu país. E hoje, enquanto eu choro, eu me lembro da primeira grande
dor por uma derrota nas eleições. Outras vieram...
Choro e me lembro daquele 27 de
outubro de 2002. Eu estava em Porto Alegre, no Largo da Epatur (hoje Zumbi dos
Palmares). Encontrei vários amigos e amigas de militância e, em dado momento,
me abracei a um e copiosamente chorei: o Tarso perdeu, o Tarso perdeu, eu dizia.
E ele: mas nós ganhamos a presidência da República. Ganhamos? Há alguns dias eu questionava votar
no Lula. Dizia-lhe estar inconformada com as alianças. E ele: mas só assim
seremos governo. Eu dizia: mas não sei se quero ser governo assim... Ali,
vendíamos a nossa alma para o diabo. E, um dia, como hoje, ele cobraria a
fatura.
Enquanto eu choro, eu me lembro da
primeira grande decepção: o Mensalão. Mas o PT não era o partido da ética?
Depois vieram outras... E lembro do Tarso Genro querendo refundar o partido. E
lembro da resposta do partido a ele... Petrolão está aí a mostrar quem estava
certo...
Choro, sim, eu choro. Choro porque
apesar de tudo, as duas últimas eleições presidenciais eu votei a partir de uma
convicção: estávamos fazendo mudanças. Verdade que nem todas as que o campo da
esquerda queria. Votei pensando no Bolsa
Família, nas cotas, na expansão das universidades federais e na ampliação de
políticas de entrada e permanência a elas. Votei pelo que vi e vivi quando
trabalhei no Ministério da Cultura, em 2010. E choro copiosamente vendo que
muito daquilo se perdeu. Choro pensando naquilo que se esvai.
Esta noite, enquanto eu volto para
casa, eu choro. Choro porque moro em um país machista e vejo a primeira
PRESIDENTA ser afastada. A primeira mulher desse meu país machista a ocupar
esse cargo. Choro porque vejo quem a afasta. E me dá nojo. Mas nós, brasileiros
e brasileiras, somos responsáveis pelo Congresso que aí está (e aqui não estou
dizendo isso porque votaram pelo impeachment). O PMDB só é o que é porque tem
gente que vota nesse partido para o Congresso. E, tendo a maior bancada, o PMDB
vai conforme a onda. Um dia quer ser governo, outro dia quer derrubar o
governo, para continuar sendo governo...
Choro, mas sei que amanhã as lágrimas
vão secar. Que eu ainda acredito em um projeto de esquerda para o meu país. Que
eu creio em um país mais justo, em que eu não possa estar bem quando o(a)
outro(a) não está. E aí, quando penso nisso tudo, e no tudo que ainda tem de
ser feito, eu seco minhas lágrimas, olho para a frente e digo: ainda tem muita
luta para lutar. E eu não vou desistir.
Escrito entre Salvador e Jequié, dia 11 de maio de 2016
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