Das crises e dos filmes ou Dos filmes e das crises

Hoje é o Dia Internacional da Dança e acabo de ver o espetáculo Verde (In)tenso que fala um pouco do que quero discutir em minha próxima obra (há anos acalanto dois temas: um, realizado agora em Dez(s) Amores; outro a ser realizado - A estética do frio, de Vitor Ramil).

No Dia Internacional da Dança, estou na minha cidade. E prestigiando gente da dança de minha terra. E encontrando amigas da dança que conheci fora daqui. Mas não é sobre dança que quero falar agora. Mas, sim, de filmes. E crises.

Há tempos quero escrever sobre isso: mas uma tese e um espetáculo não me permitiram.

O ano era 2000. E eu morava em Brasília. Lembro-me de ir ao Pátio Brasil ver este filme. Lembro-me de estar só. A internet diz que o ano era 2000. Eu sempre pensei que fosse 2001... (Como estreou em setembro, no Brasil, talvez o tenha visto no início do outro ano).

O fato é que saí do cinema perturbada: mas afinal, o que eu queria da minha vida, quando era criança? O filme foi o detonador para uma busca: a graduação em Dança. Uma busca que demorou a se realizar, que significou muitos sacrifícios, mudanças de cidade, etc, etc, etc, etc.

Pois este ano, outro filme me perturbou: Spotligth - segredos revelados . Do mesmo jeito que chorei em Duas Vidas, também derramei minhas lágrimas neste. Senti saudade daquelas matérias de montar quebra-cabeça: da minha primeira manchete, daquele manchete que não houve, etc. Senti saudade de ser repórter.

Mas afinal, o que eu queria ser da vida?

Durante a escrita da tese - em forma de cartas, muitas vezes quase que como um diário - me vi em crise. Mas, afinal, o que eu quero na dança? Ainda quero ser professora? Nunca me imaginei uma bailarina - mas tomei gosto por criar, na faculdade; e, sobretudo, dirigir dança. Sempre me imaginei professora. Talvez tivesse a minha escola de dança... De repente, um dia, me imaginei formando outras professoras, em um curso de licenciatura. E, por causa disso, fui fazer Mestrado e Doutorado.

"Doutorado para quê?", um diz me disse um amigo de Vitória da Conquista. "Mas, afinal, o que é importante para ti?" E ele não se referia à profissão...Eu estava por terminar o Mestrado e sentia que o meu tempo de Bahia havia se esgotado. Mas tinha um Doutorado... E, assim como fiz com lesões que tive, esgarcei. Sim, esgarcei o tempo, dilatando até ele quase se arrebentar.

Qual o preço? "Ganhar" um Doutorado. Tá, e daí? Mostrar que a dança tem futuro? Que vale a pena estudar dança? "Usar" este Doutorado para quê?

Quando estava por entregar a minha tese, comentei com minha orientadora parte de minha crise: será que é o magistério superior que eu quero? Quem sabe voltar para a educação básica? (ou para escolas de dança? mas isso eu não falei) Ela disse que não fazia sentido e que nas escolas básicas das federais, por exemplo, apesar do mesmo salário, a carreira era distinta... E se eu voltasse a ser jornalista?(Também não falei a ela)

Em São Paulo, em março, conversando com uma amiga, ela disse: "você não era feliz em Brasília, fazendo as duas coisas?" Eu trabalhava horrores, mas, sim, eu era feliz. Muito feliz. Até, porque, morava numa cidade que amo. Era feliz, sobretudo, quando estava no Ministério da Cultura e dando aula de dança...

Tempos depois desta conversa, tive um sonho com ela e com um amigo jornalista. Ao falar do sonho com outra pessoa, lembrei da frase da Sandra. É isso?

Talvez só o processo de Doutorado já provoque crises. Talvez a minha maior crise seja a Bahia.

Ou será o filme também outro detonador de crise?

Agora, enquanto escrevo, depois de voltar do teatro, me deu vontade de escrever sobre dança. Crítica de dança. Como fiz algumas vezes, quando trabalhava na Gazeta Mercantil.

A dança estará sempre comigo. Onde quer que eu esteja. Fisicamente e profissionalmente.

Contar histórias talvez seja a minha vocação. Escrevi isso, ao final da tese, em que conto histórias...

Lá, depois de Duas Vidas, eu sabia exatamente para onde ir. Aqui, depois de Spotlight, eu acho que sei... mas não tenho tanta certeza. Tem gente que diz que a vida começa depois dos 40. Será uma crise de meia idade? Começar é recomeçar?

Não sei, não sei, não sei...

"Sempre que acontece uma coisa importante, está ventando". A frase de O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, é dita no espetáculo. Espero o minuano, para saber?

Para fazer eu chorar, o espetáculo termina logo após uma cena linda, com erva mate e Vitor Ramil (Loucos de Cara). Quando a cena começou, já marejei. Quando ouvi os acordes, disse: ah, não, quer que eu chore?

A canção diz:

Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro

É sinal que valeu!
Pega carona no carro que vem
Se ele não vem, não importa
Fica na tua


É sinal que valeu. É sinal que valeu. Mas o que importa, afinal?




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