Ao som do teu (nosso) amor

A música que toca, me faz lembrar de ti. Parece que tudo me lembra. Nos últimos dias, tudo me lembra. E por que?
Eu danço. E quando chega a noite...e eu sozinha aqui.  Tomo meu vinho. E danço. Sozinha no quarto. Nua. Eu danço. Festejo a noite. Festejo a vida. Festejo. E quando paro de rodopiar, eu me dou conta que continuo sozinha. Eu sozinha, aqui. E tu?
A música termina. Eu choro. Por que tudo me lembra? Talvez eu esteja bêbada e nem consiga terminar de escrever... talvez tudo pare daqui a pouco. Mas lembra.
Um filme passa na minha cabeça. E eu te vejo, entre copos. Foi entre copos, no meio deles, que te vi a primeira vez. Eu pego a taça. Eu dou mais um gole. Vejo a vela acessa, que perfuma meu ambiente. E o cheiro me leva para longe, para um lugar onde nunca estive. Eu e tu. Nós dois, tomando vinho, ouvindo música, ao o barulho da brasa da lareira. Nós dois, deitados, aconchegados um no outro, aquecidos pelo calor do fogo. Mas que fogo?
Eu choro e me pergunto: onde foi que errei? Mas será que fui eu quem errou? Tu? Nós dois?  Ou ninguém... era o que tinha de ser...
Queria tanto ter voado contigo... queria tanto nunca ter me separado... Mas nós nunca estivemos juntos? Ou estivemos? Já não sei, a esta hora, o que é sonho ou o que é realidade. Já não sei o que vivi ou o que imaginei ter vivido. Nós existimos? Nós um dia nos amamos? Ou foi tudo invenção da minha cabeça?
Eu juro que ouvi. Sim, eu juro que ouvi, que um dia tu falaste que me amavas. Amavas? Eu juro que ouvi. Ou foi a minha cabeça quem inventou? São tantas perguntas, sem respostas. Reticências intermináveis.
Hoje eu queria voltar para aquele dia... mas qual dia? O que tu disseste que me amavas? O que te vi, pela primeira vez, segurando o copo? O dia em que me roubou um beijo? O dia em que vi um avião me afastar de ti? O dia em que dissemos que era só isso e depois descobrimos que não? Qual dia? Qual? São tantos que eu já não sei mais qual.
Ah, eu queria ter voado contigo. Par aonde? Não sei... qualquer lugar eu me sentiria segura ao seu lado. Tantas vezes eu me senti segura, pelo simples fato de me aconchegar em ti.  Ou pelo simples fato de saber que tu existias. Que estavas aí...
Vontade de gritar. Berrar bem alto para o mundo ouvir que eu ainda te amo. Sim, eu ainda te amo. E por que te amo? E por que tenho essa vontade infinita de pegar o primeiro avião e te abraçar?
Meu vinho acabou. Meus dedos dedilham rapidamente. E eu tenho vontade de estar contigo. Gritar para todo mundo ouvir que eu te amo. Vontade de voltar aquele dia. O que ouvi que tu me amavas. De te agarrar e dizer: não vá. Não, eu que não podia ir. Não, tu que devias ter dito.
Eu choro. E segue esta vontade infinita de te agarrar e te dizer: não vá. Ou: não me deixes ir. Sim, é isso: vontade de te agarrar e dizer: não saias mais da minha vida. Não me deixes sair. Não me deixes ir. Me deixas ficar...
Me deixas ficar... Por que não?
E se eu ficar?
Agora já é outra música que toca. E eu penso no infinito. No amor infinito. No amor que vai de uma vida a outra e segue. Mas tu não acreditas nisso. O amor ainda estava lá... diz a canção. Onde? Onde estivermos. E ele vai e ele vem. E ele volta com força. Ele adormece. E volta a acordar. Ele é cíclico.
Vontade de viver o não vivido. De acordar contigo. De te dar bom dia. De dormir contigo. E acordar. E dormir. E sonhar. Sonhar. Sonhar junto. E dar risada. E falar bobagem. E se olhar. E...
Quantas vezes vivemos o que queríamos? Minutos? Dias? Horas? Quantas vezes fomos felizes juntos? São tantas perguntas sem respostas. Reticências eternas.

O vinho acabou. Sim, eu pego a taça, procuro mais um gole. Mas, definitivamente, acabou. A vela ainda perfuma o ambiente. Eu olho ao redor. E eu sozinha aqui. E tu?

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