I can't my eyes of you...

Naquele final de semana, em um dado momento, ela tocou. A música que me embalava nos últimos dias, estava ali, diante de nós. Não sei se propositalmente, ou não. Era um momento mágico e ela tocava, lindamente, como ela é. Mas como que a lembrar que era preciso deixar o passado para trás.
O passado que se apresentava no presente e que fazia, há meses, eu cantar aquele refrão: I can't my eyes of you. O passado que me deixava as pernas bambas, que me deixava indecisa, que me fazia querer "Leave it all behind". Mas que prenunciava que a frase seria outra, que o significado do verbo viria da estrofe completa:

"Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?"

O passado de vida longa, mas que na verdade não passaria de uma "shorter story". E aquela estrofe dolorida veio à minha cabeça, naquele momento em que eu perguntava o inevitável. No momento em que as lágrimas escorrim.
Aquela estrofe dolorida, que não era o refrão, vinha para me dizer que aquele passado nunca deveria ter deixado de sê-lo. Naquele momento em que Damien Rice tocava em mim, queria que a canção fosse outra, que Lara Fabian falasse por mim:

"I said I didn't come here to leave you
I didn't come here to lose
I didn't come here believing I would ever be
away from you
I didn't come here to find out
There's a weakness in my faith
I was brought here by the power of love
Love by grace"

Meu mundo gira em torno de você, é o nome de uma canção do Kid Abelha - que nós dois gostamos. Há anos é assim... minha movimentação é um afastamento de ti. E tudo parece estar ligado a ti. Conquistas e derrotas. Vitórias que me levam para longe de ti. 
Aonde foi que nos perdemos? Girando em órbita sem alcançar. E de repente tu parecias tão perto e ao mesmo tempo tão distante. E, no fundo, eu queria tu me disseste o mesmo que não falaste da primeira vez que eu me afastei: Fica. 
E choramos. Tu por covardia ou egoismo. Eu por infinita tristeza. De saber que continuaríamos a ser a história que não aconteceu. Por que tu estavas tão perto e me escapavas pelas mãos?
E então eu decidi que faria o mesmo que uma década antes. Aquela página estaria apagada, como a lembrança do que não foi. Sem ressentimento, sem tristeza, sem mágoas, sem lembrança. Ficaria no fundo do baú. 
E hoje eu me pergunto, de que adiantaram os anos de psicanálise, se eu permite que estivéssemos em órbita de novo? Se de novo me vi com decisões que me levariam para longe? E sofreria por isso. Minhas vitórias me afastam de ti. Mas talvez não doesse antes daquele dia mágico. Agora doem. Porque eu preferiria não saber. 
Mas eu me afastei e não fiz como da outra vez. E meu mundo continua girando em torno de você, como diz a música. E eu tenho medo do presente que se anuncia. Ele me diz: longe, longe, cada vez mais longe... 
E eu pergunto: por quê? Por que se nos orbitamos há tanto tempo não nos aproximarmos de vez? Por que giramos, giramos, giramos, sem sairmos de lugar?
E por que tão longe tu ainda és tão presente? Talvez porque há anos seja assim, em alguns períodos de nossas vidas. Porque de novo me vejo escapando... e pensando: longe, longe, cada vez mais longe. 
E dói. Porque a pior saudade é aquela do que não foi. E essa eu vou levar comigo sempre, onde estiver. Porque orbitamos, orbitamos infinitamente. 

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