Solidão a dois


O telefone não tocava como antes. E as mensagens já não tinham o entusiasmo de outrora.
Dia a dia as viagens se tornavam cansativas. E do outro lado do portão o abraço afetuoso não lhe aguardava.
Os beijos foram se escasseando. Assim como as carícias. Os encontros se tornaram raros e dolorosos.
Mas no peito o coração teimava e insistia. E brigava com a razão que lhe perguntava o porquê de estar ali.
O sofá já não aconchegava. E aquela casa era um frio deserto. Qualquer palavra podia ser mal-interpretada. E, então, ao invés das doces e melosas, o que imperava era a mudez.
Estavam juntos. Talvez por comodismo, por ter se acostumado com a companhia do outro. Estavam lado a lado, mas já nao faziam nada juntos.
A vida tinha virado um moto-contínuo. Mas o coração teimava e insistia, enquanto a razão perguntava por que.
O tempo ficara menor. E aquela música já não tocava, nem dançavam mentalmente com ela. Os momentos juntos quase não existiam mais.
A vida era um correr para braços vazios. Era sonhar com o afeto que já não existia. Só dois seres indefesos tiravam deles o sorriso no rosto e a felicidade compartilhada. Todos os outros momentos eram de imensa solidão a dois.
Mas o coração insistia e teimava em continuar brigando com a razão, que se perguntava: por quê?
Até que um dia o coração parou.
Sampa, julho/09

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