A nossa lua





O céu estava nublado naquela noite – como agora estão os olhos meus – e, por isso, nós não vimos que lá fora a lua se enchia. Porque ali dentro tudo se esvaia.
As nuvens cobriam a nossa lua em uma noite de verão. Voltamos ao começo. A estação que entrava era a nossa. Aquela que aqueceu nossos corações. Assim como a lua que surgia e não víamos.
Enquanto a nossa lua se enchia, eu ia embora. Fechava aquela porta sem olhar para trás. Com o teu medo e a tua raiva estampados no olhar. No meu, enuviado, a decepção. Chovia na minha alma naquela noite nublada que escondia a nossa lua.
Na noite seguinte, eu procurava no céu uma resposta. E lá estava a nossa lua. Ao vê-la, eu não sabia se enchia ou se esvaia, como eu. Ao olhá-la, lembrava da nossa primeira lua. E então, eram meus olhos que nublavam. E se enchiam. De lágrimas.
O céu só limpou quando cheguei à nossa terra. Lá, ele me mostrou que a lua enchia. E ali, com o nosso satélite à mostra, cheio, em uma noite de verão, com um ventinho fresco que pedia abrigo, eu lembrei que tu não estavas mais ao meu lado para me abraçar e me aquecer. A lua estava cheia, na volta do verão, e meu coração, três estações depois, vazio.

(Ela pensa que é literatura)
Porto Alegre
Dez/07

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