Eu já te disse? A minha versão



Sabe do que eu gostava e nunca te falei? Quando saías do banho e te escondias, envergonhado ao ver que eu te observava pelado. Fugias de mim ...
Quando te trancavas no banheiro para eu não entrar. Ou no quarto, enquanto te trocavas. E eu, do outro lado da porta, sedenta. Mas dando risada. Tu me fazias rir.
E voltavas para a sala sem jeito. Como uma criança que está descobrindo o seu corpo. Uma criança que você é, e nunca vai deixar de ser. E que às vezes, com raiva, te joguei na cara. Mas que, por outro lado, é o que me encanta, ao mesmo tempo em que me chamavas de ingênua.
Eu também nunca te disse que és uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Mas acho que já te disse que és meu presentinho. Porque nunca antes tinha vivido algo igual. Porque a vida se apresentava de outra forma. E quando penso em nós dois eu vejo uma troca não antes vivida e uma igualdade apesar das diferenças.
Sabe do que mais eu gostava? Difícil saber. Nem eu sei. Mas a minha lembrança mais presente é a tua vergonha. A timidez que hoje já não existe.
Eu gostava das tuas brincadeiras. De abrir bobagem no computador. De dar risada de programa bobo da televisão. De sair para jogar sinuca. Do teu sorriso de canto tocando bateria. E que ainda gosto...
Acho que o teu sorriso, com o dentinho quebrado e torto, talvez seja o meu encantamento. O teu jeito de moleque, que eu repeli.
Já te contei que eu nunca fui a um campo só por alguém? E que tu fizeste isso (mesmo eu chegando atrasada). E que queria, muito, mesmo, te ver jogar? Eu disse quanto fiquei feliz quando falaste que era importante estar ao teu lado, no momento certo? Que cada conquista tua é minha também e que sinto o maior orgulho disso? Aliás, e isso eu acho que eu já te disse, eu sinto tanto orgulho de ti... Apesar de tu insistires em perguntar se não tenho vergonha.
Acho que eu já te disse. Que adoro deitar nas tuas costas. E morder a tua bunda. Assim como tenho uma vontade enorme de te ter dentro de mim de um jeito tão intenso que quero te devorar (mas que reclamas das marcas que deixo no teu corpo). Eu já te disse que eu preferia que não reclamasses e não me tolhesses? Que querias que aceitasses simplesmente a minha expressão do amor, do tesão e tudo mais, assim como aceito a tua. Inclusive a tua dificuldade de expressão.
Já te disse que muitas vezes dei risada da tua economia sem sentido? Do falar rápido ao telefone, de nem dar tempo de ouvir a tua voz. Mas que agora faz sentido. Que tens dias que a tua voz me consola sem saber, quando demonstras que também sentiste a minha falta e que me querias ao teu lado? Eu já te disse o quanto é importante para mim demonstrares que é importante para ti estar ao meu lado? Parece bobagem...
Já te disse que a tua voz, as coisas que tu falas, o jeito como falas, entram no meu ouvido da forma mais doce do mundo? (Exceto quando estás zangado) Sim, acho que já te disse como tu és uma pessoa muito querida. Querida por mim. Mas que, acima de tudo, se faz querida. Por si.
Eu já te disse que queria uma música tua? Uma música nossa, como a do Fito Paes? Que a tua melodia me faz feliz, mesmo quando é um barulho? Que eu adoro quando tu ficas tentando achar a minha musicalidade ou quando eu já sei o que tu vais tocar? Que tudo o que tu fazes é importante para mim, independente de minha cara não demonstrar?
Eu já te disse que tem vezes que eu queria ser como tu, menos encanado em algumas coisas, tão pouco virginiano em outras. Mas que também queria que as vezes tu fosses canceriana como eu: romântica e sonhadora.
Eu já te disse que tem coisas que não precisam ser ditas, apenas sentidas? E que por vezes preferiria que tu sentisses isso? E que outras eu simplesmente não consigo falar, apesar de sentir?
Mas tem uma coisa que eu certamente nunca te disse. Que eu morro de medo de te perder.

Nov/07
Sampa


Ver também o original, da Milly Lacombe

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