Mico, miquinhos, micões e o tucano
A natureza castiga quando se vai a um lugar belo sem tempo suficiente para apreciá-la. E foi o que aconteceu com aqueles três seres que saíram da selva de pedra rumo ao coração do Brasil.
A chegada ao aeroporto já começou tumultuada. Uma tempestade caia sobre a cidade, impedindo que saíssem vôos dali. Resultado: ficaram duas horas e meia à espera da partida. Se isso fosse tudo, estava resolvido. Aquele era apenas o começo de uma viagem inesquecível, mas também perturbada.
Saíram com uma "aura" de cansados. E, no meio do vôo, mais uma notícia ruim: uma pane no sistema elétrico ia fazer com que tivéssemos de pousar em outro aeroporto, que não o do destino. Foi então que descobriu-se o motivo da maré de azar: um gaúcho que há dois dias tentava sair de sua cidade rumo ao Brasil Central. Por motivos técnicos, no primeiro dia; e climáticos, no segundo, não tinha saído de casa. Era sua terceira tentativa. Era isso: ele era o culpado do início da viagem tumultuada. Quem dera, se fosse só isso...
Depois de uma hora no solo, o avião enfim decolava. Duas horas de vôo e mais três de estrada chegavam ao destino final – em parte, pois era madrugada e só depois de dormirem estariam no meio do mato.
A natureza castiga quando se vai a um lugar belo sem tempo suficiente para apreciá-lo. E mais uma vez estavam como o coelho da Alice, com o relógio na mão, com o ritmo da selva de pedra.
Um campo sem fim, recortado por morros, que não deixavam o horizonte tão à mostra como numa região plana. No silêncio do Brasil Central, apenas o canto das aves e a melodia das águas. Estavam em uma região cercada de rios e cachoeiras. Uma água clara e morna banhava seus pés e os energizava. Enquanto conheciam o lugar, sem tempo para apreciá-lo, avistavam os animais nativos e aqueles introduzidos na região. Uma manada de bois ia em direção a eles e, quando observaram aquela cena, viam o sorriso nos lábios do responsável pelos animais, como um pai que admira a arte de seu filho.
O relógio corria e era hora de ir embora. Na saída, a natureza brindava-os com uma despedida: um lindo tucano parado em um galho. Como se o tempo parasse, ficaram ali, registrando aquela imagem, gravando-a na retina, no coração e na máquina fotográfica, trazida da selva de pedra. Mas o tempo corria em ritmo diferente daquela natureza.
"Da próxima vez, eu não aceito visita com menos de cinco dias". Verdade absoluta.
Na hora de sair, diante da estrada infinita, que os levava ao aeroporto – eram mais de três horas de chão – percebem a urgência da ocasião. "De uma coisa eu tenho certeza, se o vôo não atrasar, vocês vão perder o avião".
Realmente, a natureza castiga quando se vai a um lugar belo sem tempo suficiente para apreciá-lo. Por mais que corressem, quando chegaram ao aeroporto, o saguão estava vazio, assim como o balcão do check in. Já tinham perdido o vôo e o próximo só sairia dali a sete horas. Agora tinham tempo de sobra e natureza de menos. Não havia mais nada a apreciar. Apenas o tempo a gastar.
Eles decidiram então que iam almoçar-jantar e gastar as horas de alguma forma. Após iriam ao cinema para dormir. Depois do filme, voltaram para o aeroporto. E, mesmo assim, ainda tinham tempo livre. Diferente de antes, agora o saguão estava cheio. Foram circular pelo local e encontraram lojas de artesanato. "Eu não acredito que vocês vão levar lembranças daqui", disse um deles, que estava mal-humorado com a situação.
No meio de bolsas e chapéus, animais em palha, bichos de pelúcia do Pantanal, havia tucanos nas mais diversas formas. "Foi ele que fez a gente perder o avião", resmungaram. Seguiram para a praça de alimentação, a fim de tomar um café, contando as horas para voltar para casa.
Apesar da chuva que voltara, repetindo a ida, o avião saiu pontualmente e, duas horas depois, retornavam à selva de pedras.
Passaram mais tempo a caminho do destino do que nele.
No saguão do aeroporto, já "em casa", uma delas entrega para os outros dois um lápis com um tucano na ponta. E eles caem na gargalhada.
Acabava ali aquela viagem tumultuada. Um verdadeiro mico.
A natureza realmente castiga quando se vai a um lugar belo sem tempo para apreciá-lo ....
Sampa
02/12/06
A chegada ao aeroporto já começou tumultuada. Uma tempestade caia sobre a cidade, impedindo que saíssem vôos dali. Resultado: ficaram duas horas e meia à espera da partida. Se isso fosse tudo, estava resolvido. Aquele era apenas o começo de uma viagem inesquecível, mas também perturbada.
Saíram com uma "aura" de cansados. E, no meio do vôo, mais uma notícia ruim: uma pane no sistema elétrico ia fazer com que tivéssemos de pousar em outro aeroporto, que não o do destino. Foi então que descobriu-se o motivo da maré de azar: um gaúcho que há dois dias tentava sair de sua cidade rumo ao Brasil Central. Por motivos técnicos, no primeiro dia; e climáticos, no segundo, não tinha saído de casa. Era sua terceira tentativa. Era isso: ele era o culpado do início da viagem tumultuada. Quem dera, se fosse só isso...
Depois de uma hora no solo, o avião enfim decolava. Duas horas de vôo e mais três de estrada chegavam ao destino final – em parte, pois era madrugada e só depois de dormirem estariam no meio do mato.
A natureza castiga quando se vai a um lugar belo sem tempo suficiente para apreciá-lo. E mais uma vez estavam como o coelho da Alice, com o relógio na mão, com o ritmo da selva de pedra.
Um campo sem fim, recortado por morros, que não deixavam o horizonte tão à mostra como numa região plana. No silêncio do Brasil Central, apenas o canto das aves e a melodia das águas. Estavam em uma região cercada de rios e cachoeiras. Uma água clara e morna banhava seus pés e os energizava. Enquanto conheciam o lugar, sem tempo para apreciá-lo, avistavam os animais nativos e aqueles introduzidos na região. Uma manada de bois ia em direção a eles e, quando observaram aquela cena, viam o sorriso nos lábios do responsável pelos animais, como um pai que admira a arte de seu filho.
O relógio corria e era hora de ir embora. Na saída, a natureza brindava-os com uma despedida: um lindo tucano parado em um galho. Como se o tempo parasse, ficaram ali, registrando aquela imagem, gravando-a na retina, no coração e na máquina fotográfica, trazida da selva de pedra. Mas o tempo corria em ritmo diferente daquela natureza.
"Da próxima vez, eu não aceito visita com menos de cinco dias". Verdade absoluta.
Na hora de sair, diante da estrada infinita, que os levava ao aeroporto – eram mais de três horas de chão – percebem a urgência da ocasião. "De uma coisa eu tenho certeza, se o vôo não atrasar, vocês vão perder o avião".
Realmente, a natureza castiga quando se vai a um lugar belo sem tempo suficiente para apreciá-lo. Por mais que corressem, quando chegaram ao aeroporto, o saguão estava vazio, assim como o balcão do check in. Já tinham perdido o vôo e o próximo só sairia dali a sete horas. Agora tinham tempo de sobra e natureza de menos. Não havia mais nada a apreciar. Apenas o tempo a gastar.
Eles decidiram então que iam almoçar-jantar e gastar as horas de alguma forma. Após iriam ao cinema para dormir. Depois do filme, voltaram para o aeroporto. E, mesmo assim, ainda tinham tempo livre. Diferente de antes, agora o saguão estava cheio. Foram circular pelo local e encontraram lojas de artesanato. "Eu não acredito que vocês vão levar lembranças daqui", disse um deles, que estava mal-humorado com a situação.
No meio de bolsas e chapéus, animais em palha, bichos de pelúcia do Pantanal, havia tucanos nas mais diversas formas. "Foi ele que fez a gente perder o avião", resmungaram. Seguiram para a praça de alimentação, a fim de tomar um café, contando as horas para voltar para casa.
Apesar da chuva que voltara, repetindo a ida, o avião saiu pontualmente e, duas horas depois, retornavam à selva de pedras.
Passaram mais tempo a caminho do destino do que nele.
No saguão do aeroporto, já "em casa", uma delas entrega para os outros dois um lápis com um tucano na ponta. E eles caem na gargalhada.
Acabava ali aquela viagem tumultuada. Um verdadeiro mico.
A natureza realmente castiga quando se vai a um lugar belo sem tempo para apreciá-lo ....
Sampa
02/12/06
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