O ódio, a anestesia e o poste


Neste domingo, o Rio Grande vai fazer história. Pela primeira vez, desde a redemocratização, o gaúcho e a gaúcha podem reeleger um governador. Ou eleger um POSTE. Não, a ideia não é falar mal do senhor que pleiteia o cargo de governador do Rio Grande do Sul...
O estado que se vangloriava por ter o título de “mais politizado do Brasil” vai eleger um POSTE para governador. O Rio Grande caminha para o precipício, mas não reage. Prefere morrer no despenhadeiro... Está anestesiado. As últimas escolhas políticas deixaram o gaúcho e gaúcha assim? Mais nada vale a pena? Não deu certo, não deu certo, e assim vai mudando, mudando, se afundando até cair no fundo do poço?
O estado que se dizia politizado cansou da luta, prefere o POSTE? Não sei de onde vem a alcunha de politizado. Mas lembro de ouvir a expressão ainda na adolescência, ou pouco antes. Seria ela fruto das escolhas de Porto Alegre, que depois da redemocratização elegeu um negro prefeito? Sim, um negro, em um estado tradicionalmente racista (ainda o é, menos é verdade, mas imagina como era há quase 30 anos). E depois colocou o PT no poder, sendo uma das primeiras capitais do país a eleger um candidato deste partido. E depois construiu o Orçamento Participativo e durante anos foi referência em políticas públicas e na esquerda brasileira. Ou a alcunha vem antes disso, vem do nosso passado de lutas?
O estado que um dia foi (será que foi?) o mais politizado do país escolheu se despolitizar. E, com isso, eleger um POSTE para governador. É isso que nós realmente queremos? Estamos anestesiados, cansados da luta?
Ou o que está por trás desta escolha é o ódio? O ódio ao PT. Aos petralhas! Sim, a mídia soube construir bem uma visão do PT horripilante. Não, não estou dizendo que não houve denúncias de corrupção no governo federal. Mas o PT não é o diabo que se pintou. E as últimas denúncias bem mostram isso. É claro, no entanto, que nos anos 1990 o PT tinha um discurso pela ética, mas se aliou à direita para chegar ao poder, em 2002, e depois foi o que vimos, em nível nacional. Mas, este mesmo partido, com essas denúncias – apuradas em seu governo e punidas – fez muito pelo país. O Brasil mudou nos últimos 12 anos e isso é indiscutível.
Mas se é esse ódio, por que os votos na presidenta Dilma foram maiores (percentualmente) que os dados ao governador Tarso Genro? Mas, se é o ódio que move o Rio Grande para o precipício, ele é inexplicável, pois todas essas denúncias se deram no governo federal. Quais os escândalos do governo Tarso? Os anteriores a ele tiveram e, alguns, gravíssimos.
Então, o ódio não deixa o gaúcho e a gaúcha verem o que mudou em nosso estado, nos últimos quatro anos? Que voltamos a crescer, que houve investimentos na educação, na descentralização econômica, etc.?
O ódio (ou a anestesia dos governos que deram errado) não deixa o gaúcho e a gaúcha perceberem que a gente só muda continuando? Que se em cada eleição eu votar em um novo projeto, eu não consigo instituir mudança alguma, pois cada novo que chega altera o que se começou e que quatro anos é pouco tempo para uma mudança se consolidar? Se o PT não tivesse feito o seu sucessor, o Orçamento Participativo teria sido extinto na gestão seguinte. Foi a continuidade de um projeto político que permitiu que o Orçamento Participativo se consolidasse na sociedade civil e, com a alternância do poder, a partir de 2004, ele continuasse na capital gaúcha.
Ódio ou anestesia. Não sei o que é. O fato é que há 22 anos eu voto e NUNCA vi um candidato como o atual adversário do governador. Ouvi os debates e fiquei estarrecida com a falta de preparo e a despolitização do mesmo. Eu não elegeria esse senhor nem para síndico do meu prédio.
E pergunto, como ele chegou lá? Não havia nada melhor? (E nesta pergunta, não necessariamente digo que teria de ser o Tarso com outro. O que pergunto é como nós, gaúchos e gaúchas, deixamos este senhor chegar ao segundo turno).
No primeiro turno, ouvi dos que rejeitavam o Tarso Genro as seguintes expressões: MENSALÃO e ARROGANTE. Já falei sobre corrupção. E, sim, ela não se justifica. Mas arrogante? Nós, rio-grandenses, temos modos de falar que soam arrogantes fora do nosso estado. Estaríamos reconhecendo no governador esses modos? Não sei, eu nunca o achei assim. E mesmo que o fosse: estamos elegendo uma Miss? Ganha quem for mais simpático? Ou vence quem tem PROJETOS? E aí, desculpa o teu ódio e a tua anestesia, mas o Tarso Genro e o PT têm um projeto para o Rio Grande. Este projeto está em curso e tem mudado – ainda que não o suficiente e não tenha dado tempo para tanto – a cara do Rio Grande. Este projeto está alinhado com o governo federal.  Não vi, nos debates, o projeto do outro lado. O outro lado tenta parecer que veio de lugar algum, não tem “rabo preso com o passado”. Ah, sim, e o outro é do mesmo partido do vice-presidente. Então, se o ódio vem da esfera federal é, mais uma vez, inexplicável.
Para mim – e sou suspeita em falar, pois meu primeiro voto foi para ele – o Tarso Genro é um dos políticos mais íntegros que conheci. É um dos grandes nomes da esquerda do Brasil. Foi um ótimo prefeito em Porto Alegre (elegendo seu sucessor em primeiro turno) e ajudou a projetar a nossa capital nacional e internacionalmente. É claro que uma capital é mais fácil de administrar que um estado, ainda mais um estado quebrado...
Para mim, quando nós, rio-grandenses, elegemos um POSTE no lugar de um nome como o Tarso Genro, estamos jogando sua biografia no lixo. E parece que estamos dizendo que é preciso mudar sempre, mudar por mudar, ou que cansamos da luta, que tanto faz como tanto fez.
Não, não, não. Não é tanto faz como tanto fez. É o futuro do Rio Grande! São nossos próximos quatro anos! E os seguintes (pois um desastre demora a ser reconstruído e a prova disso é o governo do Tarso, tentando reerguer nosso estado).  Vamos nos jogar no precipício? Mesmo que a escolha fosse (para mim não o é) entre o menos pior, tu achas, conterrâneo e conterrânea, que o menos pior é um POSTE?
Vamos eleger um homem com um discurso de que não tem partido, de que seu partido é o Rio Grande, que está para nos unir? Já ouvimos este discurso antes, em 2002, quando elegemos o Rigotto. E sabemos qual foi o resultado disso.
Para mim, do jeito que viemos votando nos últimos anos – com o fígado – caminhamos para o precipício. Mudar por mudar, não muda, atravanca o desenvolvimento.

Neste domingo, vamos fazer história. Podemos, pela primeira vez, reeleger um governador. Ou um POSTE. Eu já escolhi o meu caminho. Não quero me jogar no precipício. É por isso que vou votar. Como boa gaúcha, eu gosto de uma peleia. Não esmoreço. Não estou anestesiada, nem tenho ódio no meu coração. E vejo que estamos em uma encruzilhada. Dela depende o futuro do nosso estado. Com o perdão do trocadilho, prefiro fazer pipi no poste que votar num poste. 

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