O exílio


Disse-me um amigo que este período de Jequié (este semestre) seria de retiro. No interior da Bahia, em uma cidade pequena, sem muitas opções de lazer, e com uma dissertação de Mestrado para escrever. Disse-me uma amiga que ele estava certo: NÃO terei tempo de lazer. Conhecer cachoeiras e outras cidades? Diz ela que não será possível, com a escrita e parte da pesquisa (a prática) ao mesmo tempo. Para além do retiro, veio à mente a palavra exílio. Ficar longe dos seus, longe de tudo... Reaprender.
Até o final de 2012, não imaginei que, mais uma vez, em minha vida, viveria um “exílio”. Achei que estava no lugar onde realizaria meus sonhos. E dali, só mudaria para voltar para a minha terra.
Meu primeiro exílio foi em Pelotas, em 1999. Precisava estar longe da vida que levava. Precisava “recomeçar”. Mas somos como caramujos, levamos nossa casa conosco e os problemas junto. De que adianta mudar de cidade, sem mudança interior? Só que este aprendizado veio apenas em Brasília. Talvez, por isso, essa terra seja para mim tão mágica. Brasília me mostrou tanta coisa... me ensinou. 
Se eu não tivesse saído de Porto Alegre, em 1999, para aquele exílio, o que teria feito de minha vida? Onde estaria agora? Seria jornalista? Foi o exílio que fez eu enxergar diferente ou a maturidade? Ou será que ela veio com ele? Não tenho respostas precisas. Mas acho que o exílio foi fundamental.
Brasília nasceu como um exílio, a continuidade de Pelotas. Estar mais longe... Mas transformou-se em um achado. Os dois primeiros anos foram difíceis. Mas foi por causa destas dificuldades que consegui enxergar com discernimento. Quando fui embora, em 2004, foi com pesar. Voltei e, mais uma vez, parti. Mais uma vez com pesar.
Imaginei que minha temporada baiana seria curta. Mas não. Depois de 10 meses em Salvador, agora estou em Jequié.
A Bahia, para mim, foi um desvio de rota... Não estava nos meus sonhos. Ela me escolheu e não eu a ela. Porque não consegui o que queria ali, cai na Bahia. 

Caiu-me esses dias a imagem dos pés da bailarina machucados pela sapatilha de ponta, que fala sobre os sacrifícios para se alcançar os sonhos. No dia em que vi essa imagem, pensei; às  vezes é preciso ir longe, longe demais das capitais em busca do que se quer. E cá estou eu, sem saber por quanto tempo. Meses, anos, o resto da vida? Será um exílio ou um achado? 
Sim, o sacrifício tem um sabor de vitória... Mas, às vezes, eu gostaria imensamente de subir na sapatilha de ponta, etérea, leve como uma pluma, mas sem bolhas, sem calos, sem unhas roxas...
Ao chegar para este “retiro”, lembrei-me do exílio, dele como forma de renascimento. Aquela história da Fênix ressurgir das cinzas. De se refazer, emocionalmente, se curar. Limpar as cacacas acumuladas ao longo dos últimos anos... 
No livro “Mulheres que correm com os lobos”, a autora fala de um processo de purificação de três anos. Acredito que iniciei o meu em julho de 2011. Então, falta pouco. É verdade que, durante este período, incorri em velhos erros e me peguei, de novo, enovelada pela causa do meu primeiro exílio. Mas, por outro lado, descobri, também, que venho, ao longo dos anos, repetindo padrões nos meus relacionamentos, repetindo uma MATRIZ. E dói saber que a matriz é exatamente o que eu nunca quis.
Talvez o pior, no exílio, é se dar conta dos erros. Dar-se conta da matriz errada. Por quanto e quanto tempo voltei à matriz, ao som de Tele-fome, do Jota Quest, que diz que “a obrigação da sua voz é estar aqui, no ouvido do meu coração”. Por muito tempo imaginei que não seria mais preciso exílio algum, pois haveria a cura ou o encontro definitivo. Quantas vezes achei que estava curada e não via que repetia a matriz?
Pergunto-me: até quando viverei de exílios? Hoje, ele é bem-vindo para que eu não mais repita padrões. Então, quando este dia chegar, talvez eu possa estar na minha terra de novo. Ou em qualquer outro lugar, sem me sentir exilada. 



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