Passageira


Estou aqui de passagem. Pode ser que fique muito tempo, quem sabe eu nem demore.
Não, não fecha a porta. Acho que não vai dar tempo nem de sentar. Não passarei como um furacão, mas também não será como uma brisa – num tempo sustentado. Quem sabe eu sou como aquele teu vento de chuva?
Sim, é só uma passagem. Deixa-me ficar por um instante, mas na certeza de que ele não é eterno. E o que é a eternidade, afinal, que não uma passagem?
Estou aqui, mas poderia estar aí e do mesmo modo seria efêmero. Passageiro. Tudo é passageiro na vida, a gente é que insiste em tentar prolongar, em dar uma eternidade ao tempo presente. Mas o presente é o passado do futuro e o hoje não é o amanhã de ontem? Então, passa, passa, tudo passa.


Passa. E nada fica. E eu fico neste passa-e-passa. De lá para cá, daqui para lá. Perambulando. Passageira. Não sei se fico um pouco mais ou se me vou.
Sou passageira. Demoro o tanto que é preciso. Às vezes eu quero ficar um pouco mais, mas o instante me chama. Outras vezes, minha vontade é ir embora ou então fugir, mas a necessidade não me permite.
Sou passageira, deixa a porta entreaberta que amanhã talvez eu já queira sair. Sou passageira, deixa a porta entreaberta que talvez eu nem queira entrar. Sou passageira, deixa a porta entreaberta.
Sou passageira. Estou aqui de passagem. Pode ser que demore um pouco mais, pode ser que não. Mas tudo é tão relativo e efêmero nesta vida. O que é o tempo, afinal? Ou o que é demorar-se? Pode ser que eu me vá como um furacão e para ti, fique como uma brisa. 
Estou aqui de passagem. Mas confesso que queria um lugar para ficar. Sou passageira, deixa a porta entreaberta, para eu entrar. Sou passageira, então: fecha a porta para eu não sair. 

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