Ilusão

Com medo ele chegou passo a passo até ela. Conversas amenas. Com medo ela não demonstrou o quanto ele a transtornou. O medo, no entanto, os aproximava.
Eram dois corações medrosos, sedentos por um grande amor. E ele se apresentava aos dois naquela noite fria daquela gélida cidade.
Pé ante pé ela se aproximava receosa. O movimento dele era de ir e vir. De querer e temer. Mas nunca consumavam o sentimento. Medos...
Medo de tornar real o sonho. Nos sonhos, tudo é possível. Na vida real existem restrições. Assim, quando ela podia, ele não estava disponível. Quando ele queria, ela não podia. Nunca se encontravam em situações possíveis. Sempre no mundo das hipóteses.
Um dia a realidade se fez presente. Ela olhou pra ele e não se reconheceu. O tempo havia passado. Mudara tanto e ele parecia tão igual... Talvez o amor se transformara. Ele olhou pra ela e teve receio do não. E, com medo, não deu o passo adiante. Foi a única vez que a realidade se apresentou a eles. Nunca mais a oportunidade se fez... Ou eles não permitiram que ela surgisse?
Ele foi o seu grande amor, nunca consumado. Ela o amor platônico. Sempre um em volta do outro. Sempre um com medo do não. Mas sempre se confortando, entendendo-se, acalmando-se mutuamente... Anos juntos, mesmo separados.
O medo que os afastava era o medo que os aproximava. E nunca, de fato, se separaram. Mas nunca também se permitiram.
O medo os consumiu. Por medo, nunca nem tentaram. Talvez o medo fosse o de que o amor real não fosse tão bom quanto o platônico.


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