Quem deixou a chuva entrar?

"Se você pudesse me ver agora, você veria longe, você veria a magia no meu chapéu cheio de estrelas", termina uma das canções. Tenho certeza que sim. Hoje, nós dois que viamos "vermelho" e não um preto e branco, como diz a letra, mas que, apesar disso, deixamos a chuva entrar, podemos perceber que os dois chegaram em suas artes. E no meu "début", quero-o comigo, trabalhando sua arte na minha, porque sei que sempre seremos amigos e sempre nos amaremos, de uma forma diferente daquela que vivemos um dia.
"Quando vais terminar tua arte?" foi a deixa para o nosso reencontro, 10 anos depois. Mas, como disse a música: deixamos a chuva entrar. Quem?, pergunta a canção. Não sei, os dois de maneiras diferentes.
Hoje, passado pouco mais de meia década deste temporal, fico pensando que, se soubesse que não teria algumas coisas da vida pessoal que tanto desejava, talvez não permitisse que aquela chuva nos abatesse. Porque quando o conheci, nós eramos, numa tradução de "Change of heart", "mais jovens e os anos jaziam à nossa frente, não experimentados" e eu esperava ser a terceira, sem filhos. Mas eu mudei de opinião e a chuva veio...
Talvez meu saudosismo tenha a ver com algumas voltas em minha profissão. Não sei. Mas amanheci saudosista, com essa chuva lá fora, as canções de Cyndi Lauper - que são dum passado longe... - e lembrei do que uma colega, na despedida do colégio, me disse: dois amores. Sim, apenas dois homens, VERDADEIRAMENTE, fizeram com que um dia eu desejasse ficar junto até o fim dos meus dias, apenas os dois - em momentos distintos - fizeram eu ter vontade de que o menino um dia existisse. Os outros foram, como diz a letra do Kid Abelha, apenas os outros. Mas a chuva (este vento, é vento de chuva dizia um) nos separou como amantes, não como amigos. Um enxergava em preto e branco, como diz "Who let in the rain", o outro; em vermelho, como eu. Os dois ficaram no passado e, acho, são felizes também com a vida que escolheram. Mas também sei que, se pudéssemos voltar àquele passado, teríamos feito diferente. "Porque eles têm o que eu não pude manter", diz a letra.
A saudade vem e, com ela, lembranças boas, que deixam os olhos nublados. Mas assim como a chuva lá fora, logo logo o sol volta e os olhos voltam a brilhar, pois temos muita arte a fazer.
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