Declaração de amor


Eu nunca te fiz uma declaração de amor, assim como tu nunca me fizeste.  Eu nunca te disse do medo de te perder de novo, agora para sempre. Eu nunca te disse tanta coisa... e tu também deixaste de falar. Por quê?
Eu te procurei durante tanto tempo em minha vida, em outros olhos, em outros sorrisos, em outras mãos. Mas nunca te encontrei nos outros, nem em ninguém. Eu te vi naqueles olhos claros cheios de lágrima em um dia em que me abraçaste. Um dia especial pra ti. E que se tornou único pra mim. Eu te vi no teu choro, que eu nunca tinha visto. E fiquei pensando porque tu nunca mais foste o mesmo e não te permitiste não só chorar, como naquele dia, como tantas outras coisas.
Eu queria nunca ter te perdido. Ou ter um dia te recuperado, como aquele resquício que eu vi no dia quente de verão em que tu deixaste as lágrimas surgirem em teus olhos. Se nos permitíssemos, poderíamos reviver o que um dia tivemos e, quem sabe, até o que nunca vivemos. Mas por algum motivo um dia nos separamos e nos fechamos, enclausurados nas vidas. Porque tu foste embora e levaste isso para dentro de um baú?
São respostas que hoje não transformam. São perguntas que não acusam, nem reclamam, só divagam. Porque o que interessa mesmo, o que vale a pena, é o teu olho claro com lágrimas emocionadas de felicidade. Queria muito ter visto mais vezes esta emoção. E queria um dia ou quem sabe vários dias ainda vê-lo de novo.
Minhas lembranças mais felizes contigo são anteriores ao dia em que te ajudei a fazer as malas. Para mim era só uma viagem. No meu mundo de faz de conta – e tu o vivias comigo – aquilo não parecia ser tão sério como realmente era.
Mas tu saíste por aquela porta e o portão não deixou mais que tu entrasses. Não podias atravessá-lo. Durante muito tempo em minha vida fiquei pensando por que tu não pulavas ou derrubavas ele? Eu continuava no meu mundo de faz de conta, aquele que um dia tu estiveste, e, neste lugar, tudo era permitido e fácil. Tudo era mágico.
E apesar de meu mundo paralelo de faz de conta, eu sempre senti falta das brincadeiras que nunca mais tive direito, a dois ou a três. Eu continuei com minha magia, mas de forma mais solitária. Mas, sobretudo o que mais eu sinto falta, o que sempre eu quis, foi teu colo mais uma vez. E isso eu procurei a vida toda e nunca encontrei em lugar algum. Porque isso só existia em um lugar: naquela cadeira de balanço.
Balançar-me no teu colo e dividi-lo, brincando de coisas que só nós três sabíamos é a lembrança mais doce de minha infância. Aquela cadeira, para mim, será sempre a lembrança material da tua presença em minha vida. E, talvez porque eu perdi isso tão cedo ainda é que eu morro de medo disto tudo um dia ser apenas isso: uma lembrança, uma doce lembrança.
Eu nunca te disse muita coisa... mas o que interessa agora é te dizer que eu te amo muito e morro de medo de te perder de vez. E então, eu queria que tu deixasses aquela lágrima escorrer pelos teus olhos de novo e deixasse o teu coração folgar, não permitindo que ele se apertasse. Se teus olhos claros deixassem a lágrima escorrer de novo, teu coraçãozinho apertado poderia ser feliz e te curar, como quando eu era criança e o nosso mundo de faz de conta permitia tudo. Tuas lágrimas lavariam todas as coisas ruins e levá-las-ia para longe, permitindo apenas que tu vivesses, feliz, amado e amoroso.  Tuas lágrimas nos levariam de volta à cadeira de balanço e viveríamos nela até o dia em que não fosse mais possível. Até o dia em que, infelizmente, eu te perder de novo, para sempre. Mas, com certeza, por causa daquele balanço, este dia, então, iria demorar muito. Tanto que eu não viveria mais em sobressalto, como medo de te perder.
Tudo o que eu queria hoje é que não esquecesse que eu ainda preciso muito de ti e dos teus olhos claros cheios d’água, de felicidade. Que esse momento não ficasse apenas num dia de verão, mas que ele fosse assim até o teu último dia. 

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