Mestre-sala e porta-bandeira


Eram amigos online. Na modernidade é assim, às vezes as pessoas não se conhecem, mas são amigos em redes sociais. Muitas vezes, porque têm outros amigos em comum.  Era o caso deles.
Durante quase um ano curtiram coisas em comum. Compartilharam temas. E apenas uma vez se viram.  Estavam trabalhando. Talvez nem se notaram...
Tudo era nada até aquela noite. A noite do samba. A música era leve, cantada em roda. E a plateia em pé, admirava. Ele também. Foi o primeiro que ela viu, logo que chegou. E, coincidência do destino, foram apresentados, formalmente, naquele instante.
Talvez nunca mais se vissem. Talvez se reencontrassem a trabalho. Tudo era dúbio ali. Mas o certo é que seu olhar cruzou com o seu e, em alguns sambas, se encontraram. (Ou se procuraram?). De um jeito meio gato escaldado, cada um no seu canto...
Podia ser tudo fantasia. Ou a mais pura realidade. Um samba de roda virar samba-enredo?
Mas o samba tocava e eles não dançaram. Cada qual no seu canto. Mas cantaram...
A batida, a toada, no entanto, ficou em seu corpo. O samba do novo ano, sem letra, apenas no embalo.
Não foi um samba, no entanto, que os levou a se encontrarem novamente. Foi o destino? Ninguém sabe. Talvez foram os gostos em comum. Em outra cidade, longe demais das capitais, se viram, mais uma vez. À paisana. Como são. Sem rótulos, sem simulacros, cada um com sua turma. Quem sabe um dia, tomariam umas? Ali ou em alguma uma cidade deste país...
“Ensaiei meu samba-enredo”, dizia a música e pensava ela. Que estratégia usar? Como materializar aquele samba? Não sabia... e parecia que ele ficara inacessível. Ou ela não sabia mais sambar.
Longe demais das capitais se encontraram uma noite, novamente, mas em circunstâncias que não deixavam com que cada um manifestasse alguma coisa. Será que teria algo a ser mostrado dos dois lados, ou apenas de um? Poucas palavras ditas. E uma frase inacabada: Óoo...
Mas quando, de fato, cairiam no samba, sem censura, sem timidez, sem nada que os impedisse de dançar e cantar? Ficaram as reticências. Sem ponto final. Nem de exclamação.
Ela ensaiava para ser porta-bandeira, mas não sabia se ele seria mestre-sala.

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