Saudades da gente

To com saudade de tomar chimarrão em frente ao laguinho, olhando os patinhos – que são admirados e alimentados pelas crianças, com pipoca na mão. Ou enquanto caminho pelo Brique. Ou durante o passeio pela feirinha. Quem sabe observando as ondas da Lagoa.
To com saudade de caminhar meus 8 quilômetros tomando sol (sem vergonha alguma). De andar de bicicleta, ouvindo Legião Urbana, com o vento no rosto, na beira do lago.(Ou no parque, debaixo de chuva). E acelerar, acelerar... Ou navegar pela Lagoa.
To com saudade de andar de bar em bar. De ficar em um bar apenas. De redescobrir a noite.
To com saudade dos piqueniques. Da comida na casa da Xu. Do feijão da Lu. Dos fins de semana no “clube”. Dos churrascos no terraço. Das idas às cantinas. Dos almoços de domingo!
To com saudade de cantar “Jean e Giovani” em contraponto a “Desgarrados”, na maior algazarra, batendo palmas, em direção a algum lugar. De viajar cantarolando Legião Urbana, fazendo farra. De gritar para o Guaíba ao descer a lomba. De sentir frio na barriga embaixo das tesourinhas.
To com saudade das caminhadas, bandeiraços e planfetagem. Das carreatas e caravanas. Das vigílias. De acreditar em um sonho e sonharmos juntos. De vir de longe só para viver isso...
To com saudade de brincar com as crianças na praia. De comer a tua comida. De caminhar até fazer bolhas nos pés, sob a areia ou o calçadão. De sair para dançar...
To com saudade de ir à Casa de Cultura Mário Quintana ou ao cinema da Academia de Tênis. De ir à Reserva Cultural. De virar a noite no Teatro Guarani, lotado, no Círio. De ver filme cabeça. Ou um besteirol, no meio de muitos...
To com saudade de enxergar beleza onde se via coisa velha. De redescobrir a beleza na paisagem ressecada. De procurar a lua. Do pôr-do-sol do Guaíba...
To com saudade de estar no palco, sem a platéia que queria. E depois estar com aquela que foi a preferida.
To com saudade dos almoços de sexta-feira. Da turma reunida. Dos encontros e desencontros. Das separações e despedidas. Dos casamentos. Das paixões repentinas. To com saudade com saudade dos jantares lá em casa... E dos cuidados e preocupações com a Baby. De tomar vinho, ouvindo Elis Regina (ou outra coisa, mais animada – até um Pink Floyd). De me sentir muito bem acompanhada. E dar risada com todo mundo.
To com saudade de deitar na tua cama e contar os meus segredos. De todas te rodearem na cama... To com saudade de te colocar no meu colo e deixá-lo falar, até chorar. De fazer um cafuné. De te ouvir na mesa da doceria. De te abraçar depois da briga. De te encontrar e contar tudo o que vivi nos últimos tempos. De colocarmos as fofocas em dia.De frequentar um bom café.
To com saudade de seguir os rituais. Dar as voltas com a mala. Pular as sete ondas (e molhar toda a saia). De encher o saco para seguir os rituais! De comer a lentilha com a folha de louro. De tomar o primeiro café da manhã no aeroporto... De comer crepe de chocolate!De ver jogos com a turma, até mesmo no estádio.
To com saudade da rotina. De comer Martha Rocha com café, depois do almoço. De ler o jornal de domingo tomando chimarrão. De passar na doceria na sexta à noite e comprar Bem casado. Do lugar certo para cada dia. De bater ponto no Brique da Redenção ou no Bixiga. De encontrar os amigos nos fins de semana...
To com saudade de tomar chimarrão olhando o pôr-do-sol. De tomá-lo no parque. De tomá-lo na roda grande, que não acaba. Ou na pequena, entre poucos, no meio de muitos. To com saudade do mate doce na vida do chimarrão amargo. To com saudade dos amigos pelo Brasil afora.

Morungaba e Sampa
Dez/09