Doceamargo - Minha versão

Ufa! Tá bem difícil. Difícil 14 desejos, difícil um (des)orientador. Difícil as escolhas estéticas. Mas, entre mortos e feridos, faltam 12 dias!

Agora, é burilar e aguardar. Até lá, além do corpo, a mente também constrói textos.
Segue abaixo a minha última versão para a minha cena.

Doceamargo – Incomunicabilidade

Neila Baldi

Um jantar íntimo, para poucas pessoas: para aquelas que me são indispensáveis, mesmo ausentes. Um jantar para aquelas pessoas que as coisas não foram ditas, para as que não se falou do mais importante. Ou seja, para os amores silenciosos.
Um jantar reservado, num ambiente íntimo, quase na penumbra – numa luz diluída. Em uma atmosfera onírica, mesmo que real. Em que a lua ilumina ao fundo, na janela grande, que é local de encontro e admiração. Um jantar minimalista e sutil, em que nada pesa – nem a conversa do não-dito. Que a luz e a música ao fundo são suaves, como uma sobremesa. E que o espaço (pequeno e reservado) se dissolve e fica quase imperceptível. Um espaço recheado de doces lembranças, de traumas não resolvidos. Um espaço reservado para a (re)conciliação, para o amor das letras garrafais e dos ouvidos atentos. Para os corações preenchidos e a se preencher. Um espaço em que a solidão, mesmo que acompanhada, seja aplacada e a presença ausente torne-se presença real.
Um jantar em que os gestos (silenciosos) falam mais que as palavras e dizem tudo o que nunca foi dito. Mas que a palavra acaba por vir, como num abraço apertado, para reforçar o incomunicável e derrubar o medo do não-dizer. Um jantar de encontros e reencontros, de falas ausentes presentes. Um jantar para o indizível.
Um jantar em que a água permeia e embala, alimenta. Ela corre ao fundo, da torneira, que limpa os alimentos e os pratos, da fonte que purifica o ambiente, da panela que borbulha.
Um jantar em que a presença e o lugar são mais importantes que a comida, que é tão sutil como o gesto, reforçada na amorosa sobremesa.
Um jantar em que as imagens do passado alimentam sua preparação. E cada ingrediente é pensado minuciosamente, enquanto as lembranças afloram. Os temperos são delicadamente dissolvidos e a água doce, como a do mate da infância, escorre no retoque final do prato – apesar do paladar adulto preferir o chimarrão amargo, que não se apresenta.

Comentários

Mari Walcher disse…
Depois da tecla SAP ativada, eu adorei o espetáculo, PARABÉNS! Que vc tenha muito sucesso sempre!

P.s.: estava muito boa a formatura, adorei a família!

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