Aqui
Eu estou aqui, eu quis te dizer, quando cheguei.
Eu estou aqui. Mas tu sabias e fingias não ver.
Eu estou aqui? Eu me indagava, incrédula.
E tu, por onde andas? Por que não vens ao meu encontro?
Eu me perguntava...
Eu estou aqui. E tu fizeste de conta que não me notavas
ou que eu não estava.
Cheguei. E agora? Eu pensei.
Chegou. E agora? Tu pensaste.
Ficaste imóvel, a me olhar de longe, fingindo não ver.
Cheguei pra te dizer que eu estava aqui. O tempo todo eu
estive aqui.
Cheguei pra te dizer que eu estava aqui e tu parecias não
querer saber. E tu falaste: Eu estou aqui tão pertinho, quem sabe a gente toma
um café?
Nós estamos aqui, frente a frente: e agora, o que fazer?
Os olhos estão longe. No fundo dos olhos, a nossa imagem.
As mãos se escondem. Talvez quisessem tatear. Iriam procurar por nós?
Eu te olho a perguntar: por que fingiste que eu não estava
aqui? Tu finges que não me vês. E seguimos.
Nós estamos aqui. Nós dois, lado a lado. E agora?
Não sabemos. Ou sabemos. Ou fingimos que sabemos... Ou
fingimos que não sabemos. Seguimos.
Eu carrego comigo a dor do teu fingir que não me vias.
E tu, o que carregas?
Eu estou aqui. Queria ter dito.
Estava aqui o tempo todo. E de que adiantou?
Fingimos. Ou fugimos? E não sabemos o que fazer com isso.
Ou sabemos o que fazer com isso.
Eu estou aqui. Nós estamos aqui.
Aqui e em nenhum outro lugar.
Aqui, simplesmente, aqui.
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