O abismo
Os olhos encantados se procuraram. Reencontraram-se. E ao
som daquela música, sorriram.
O coração dela transbordava de felicidade. Como apalpar e
agarrar o intangível?Como congelar aquele momento? Ela irradiava amor...
Ele tremia por dentro. Sabia que a procura tinha acabado.
Mas não conseguia se mexer. Queria
tocá-la, abraçá-la, mas não saia do lugar.
Seus olhos se encherem de água. Mas ela não viu...Ela era
toda felicidade. Queria correr, gritar, agarrá-lo, apertá-lo de um modo tão
forte e intenso que não deixasse ele escapar, nunca mais. Há muito esperava
aquele reencontro e não podia deixá-lo passar em branco.
Atônitos, ficaram se olhando. Os dois sabiam a força e o
poder daquele instante.
Foi então que, suavemente, ela começou a caminhar em sua
direção. Parou em sua frente, olhando em seus olhos. Nada falaram. Seus olhos
diziam: me dá a mão, olha o abismo. É preciso coragem para se lançar. E desejou
imensamente que ele a acompanhasse. Juntos iam voar em direção ao infinito. Sem
saber do devir. Com a promessa de felicidade.
Ele começou a chorar. Seus olhos diziam: eu não tenho
coragem. As lágrimas escorriam em seu rosto. Ela queria secá-las, abraçar-lhe e
dizer-lhe que não. Por que não?
Seus olhos lacrimejaram. Olhando-o, deixando cada lágrima
cair, lentamente, foi caminhando para trás. Seus olhos continuavam a pedir-lhe
que a acompanhasse. Talvez ele não
soubesse que cada lágrima que escorria dela, era um pedido de súplica.
Ele chorava copiosamente, vendo-a se afastar. Via-a sumir aos poucos:
lentamente ela dava cada passo, olhando-o nos olhos. Caminhava sem acreditar,
querendo esbravejar, querendo fixar aquele momento do reencontro e eternizá-lo.
Querendo ardentemente que ele não ficasse ali parado, olhando-a. Por quê?
Foi então que ela parou, à beira do abismo. Olho-o pela
última vez. Uma última lágrima desceu pelo seu rosto. Não mais como súplica,
mas agora como despedida. Sem nada dizer, virou-se de costas para ele, de
frente para o abismo. Respirou fundo, sentiu a brisa. Abriu os braços e sorriu.
Jogou-se. É preciso coragem para se lançar. É preciso coragem para amar.
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