Negros olhos negros

Então do verbo fez-se a escuridão. Uma imensa negritude... Tudo escuro como a noite. Ou talvez maior que ela, como o buraco negro. Preto e infinito. Negros olhos... Olhos negros para iluminar... o que?


Era outono, quem sabe, quando das escadas desceram os olhos negros. Traziam consigo um enigma a ser decifrado e uma autoridade de saber-se percebido. Mas era outono, quando as plantas hibernam, as folhas caem... E os olhos foram percebidos, mas não encarados. Era preciso esperar mudar a estação, para que, da escuridão se vissem.

Na chegada da primavera aqueles olhos novamente se cruzaram, entre olhares, tímidos. Os olhos do outro lado daquele olhar brilharam. Na primavera as flores renascem, a vida se refaz e os olhos brotam. Olhos negros, escurecedores e, ao mesmo tempo, iluminadores, refletidos no seu olhar. Quem sabe viriam a iluminar uma alma atormentada?

Por tantas vezes se cruzaram sem se ver. E de repente, depois da primavera, buscava aquele olhar, queria-o olhando. Queria a luz daquela escuridão.

Negros enigmáticos olhos. Por onde andariam, por que não o buscavam?

Seus olhos transpareciam querer decifrar o segredo da escuridão e então tinham receio de se encontrarem. Não conseguia fita-los. E o coração disparava quando imaginava revê-los.

Buscava a luz daquela escuridão, mas não a encarava. Tateava na escuridão, tentando iluminá-la. Mas o verão chegou e com ele, toda a claridade, escondendo os negros olhos negros.

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